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O Demônio de couro negro

E agora ele vive num gélido túmulo de concreto
Transformado numa estátua com semblante triste,
Mas de uma expressão forte, deixando-o perpétuo.
Alma fechada no cárcere que tu, sem lástima ergueste,
Quando o peiote convenceu-te a fazê-lo.

Qual é o segredo por estar morto, mas com vida?
Seu nome nunca foi motivo de zelo
E você ainda não sentiu sua triste partida
Ocasionada por uma intenção de ser livre.

Vamos correr pelo paralelismo da existência!
Saltar e flutuar no ar suspenso como bala em seu calibre,
Virar a página de uma obra sem insistência,
Vê-la se transformando em uma serpente cinza.
E que com o seu olhar ficaríamos ludibriados,
Pelo magnetismo do fantasma decadente
Em seus gestos conduzidos pelos ventos frios.

Criou e destruiu o seu próprio Deus descontente
Para arrancar da tumba de seu ser sombrio
O Demônio de couro negro diante o acaso
Da despedida luminosa do sol.
Cabelos ao vento, voz de um fogo infernal
Conduziu-te para uma esquina da vida de formol.
Você usou a mão do futuro para escrever
A desregrada vida de barbitúricos do passado
Que deixou cair o fruto da imortalidade do ser.

Foi alguém e nada mais, mas não de um comum estado
Ou de um estado drogado. Você foi a droga da droga:
Ela caiu aos seus pés inerte e viciada.
Numa encruzilhada onde esta dama se afaga,
Até excitar o Demônio de couro negro na madrugada
A libertar os seus medos e as palavras distorcidas.

O “sem sentido” da nobreza do ser passageiro,
Da nobreza da brisa em sua valsa,
Dançada pelos cabelos... Tudo neste ser realça.

O que é além de humano ou fantasma?
Será força, será fraqueza, será um mito?

Foi possuído e agora possui a notoriedade
De uma voz rouca que ecoou e ecoa até hoje sem antídoto.
Gritou nos momentos crucias para alcançar a diuturnidade.

Por que você não produzia lágrimas?
Quem te construiu assim, sem explicação?
Incubada imagem póstuma.

Explico a inexplicável definição
De um ser que viveu
Escreveu, cantou
Caminhou, se manifestou.
Foi imagem para todos os olhos
Foi som para todos os ouvidos.
Distanciou-se
De tão perto
Que explico, explico
E nada digo.
E assim também sou
Caminho, falo e escrevo...
E continuo invisível.

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quarta-feira, dezembro 16, 2009 - 21:24

Ministério da Poesia :

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FranciscoEspurio

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