S2

Tens uma queda pelo sucesso
E eu não te censuro
Por ansiares um porto seguro.
Mas, às tantas, meço
A profundidade da tua queda
E… Alto, não vamos por aí.

A ti sonhar não se azeda.
Tens o que desejas ao pé de ti
E vais devorando em pedaços.
E eu em ciúmes e solidões,
Não tanto por não te dar laços,
Eu nem sei apertar os cordões

Por não ter sonhos comigo
Que és, como tu os tens contigo.
Por não cair no sucesso
Como tu, no vazio do universo
Sem sequer um grãozinho adverso.
Eu já nem isso peço

Aliás, eu quero tudo e por isso peço nada.
Também não te censuro
Porque não te há nada contrário.
Tua imagem é perene imaculada
Porque sem ti cedo não há fundo nem muro
Nem letras no teu abecedário.

Não digo que tenhas sorte.
Não, é um incomensurável azar
Ser o Centro e o Norte
Dos outros e não ter nenhum,
Ter tanto mundo a fazer rodar
Quando talvez queiras é rodar-te em rum.

Não te censuro.
Sei que ninguém é feliz com o que tem
E que o rum é doce e duro.
Mas tu tens tudo absolutamente.
Pede uma garrafa e trazem-te cem.
Sei que não o farás porque o prazer é para gente.

Sabes que só com sucesso não há prazer,
Sabes que as auréolas não podem desaparecer.
Enfim, tudo isto para te dizer
Que se um dia quiseres viver
Aqui tens um servo incondicional.
Mas só em momentos com final,
Só se algo puder correr mal
Se essa queda não for logo fatal.

Bem, não adianta esta medíocre persuasão.
Ninguém troca a imortalidade
Por um homogéneo fracasso
Cíclico e arrastado no chão.
Como cresceste do teu perene cair crasso,
Por te rires é a queda da Invencibilidade
Pelo menos a queda de uma Divindade.