Biografia: Florbela Espanca (1894-1930), poetisa portuguesa.

Florbela Espanca

Poetisa portuguesa, natural de Vila Viçosa (Alentejo). Nasceu filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo, criada de servir (como se dizia na época), que morreu com apenas 36 anos, «de uma doença que ninguém entendeu», mas que veio designada na certidão de óbito como nevrose. Registada como filha de pai incógnito, foi todavia educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma maneira. Note-se como curiosidade que o pai, que sempre a acompanhou, só 19 anos após a morte da poetisa, por altura da inauguração do seu busto, em Évora,  por insistência de um grupo de florbelianos, a perfilhou.

Estudou no liceu de Évora, mas só depois do seu casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu, em 1917, a secção de Letras do Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital, contactou com outros poetas da época e com o grupo de mulheres escritoras que então procurava impor-se. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o Portugal Feminino.

Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito, publicou a sua primeira obra poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se de Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar, no Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Nesse ano também o seu pai se divorciou, para casar, no ano seguinte, com Henriqueta Almeida. Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Em 1925, Florbela casou-se, pela terceira vez, com o médico Mário Laje, em Matosinhos.

Os casamentos falhados, assim como as desilusões amorosas, em geral, e a morte do irmão, Apeles Espanca (a quem Florbela estava ligada por fortes laços afectivos), num acidente com o avião que tripulava sobre o rio Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra.

Em Dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, Florbela morreu em Matosinhos, tendo sido apresentada como causa da morte, oficialmente, um «edema pulmonar».

Postumamente foram publicadas as obras Charneca em Flor (1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília (1930), As Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Diário do Último Ano Seguido De Um Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981). O livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes anunciado (1931, 1967), seria publicado em 1982.

A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico. Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza.

Florbela Espanca não se ligou claramente a qualquer movimento literário. Está mais perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século, portugueses e estrangeiros, que da revolução dos modernistas, a que foi alheia. Pelo carácter confessional, sentimental, da sua poesia, segue a linha de António Nobre, facto reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo, influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camões.

Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (em que alguns críticos encontram dom-joanismo no feminino). A sua poesia, mesmo pecando por vezes por algum convencionalismo, tem suscitado interesse contínuo de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.

Fonte: http://www.astormentas.com/biografia.aspx?t=autor&id=Florbela+Espanca

Submited by

Tuesday, August 23, 2011 - 03:46
No votes yet

AjAraujo

AjAraujo's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 7 years 4 weeks ago
Joined: 10/29/2009
Posts:
Points: 15584

Add comment

Login to post comments

other contents of AjAraujo

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Meditation Resíduo (Carlos Drummond de Andrade) 0 1.717 11/01/2011 - 00:51 Portuguese
Poesia/Thoughts Enfrentar a adversidade da doença inesperada 0 7.168 11/01/2011 - 00:49 Portuguese
Poesia/Meditation Demian - Introdução (Hermann Hesse) 0 7.346 11/01/2011 - 00:46 Portuguese
Poesia/Dedicated O último suspiro 0 5.443 10/30/2011 - 23:24 Portuguese
Poesia/Aphorism Agora ar é ar e coisa é coisa: traço (Cummings) 0 9.916 10/28/2011 - 13:04 Portuguese
Poesia/Love Carrego o teu coração comigo (Cummings) 0 2.324 10/28/2011 - 12:36 Portuguese
Poesia/Love Em algum lugar que eu nunca estive (Cummings) 0 7.019 10/28/2011 - 12:34 Portuguese
Poesia/Meditation As Boas Ações (Bertolt Brecht) 0 4.275 10/20/2011 - 13:02 Portuguese
Poesia/Dedicated A minha mãe (Bertolt Brecht) 0 11.548 10/20/2011 - 12:58 Portuguese
Poesia/Thoughts A exceção e a regra (Bertolt Brecht) 0 9.996 10/20/2011 - 12:55 Portuguese
Poesia/Meditation Harmonia 0 4.575 10/16/2011 - 10:56 Portuguese
Poesia/Meditation Aquele sorriso foi um bálsamo 0 3.215 10/16/2011 - 10:42 Portuguese
Poesia/Dedicated A Música (Gibran K. Gibran) 0 3.674 10/13/2011 - 22:50 Portuguese
Poesia/Meditation Uma vez, enchi a mão de bruma (Gibran Khalil Gibran) 0 2.851 10/13/2011 - 22:46 Portuguese
Poesia/Meditation Amai-vos um ao outro (Gibran K. Gibran) 0 3.202 10/13/2011 - 22:43 Portuguese
Videos/Music Until the last moment (Yanni) 0 4.790 10/11/2011 - 12:45 Portuguese
Videos/Music Sweep Away, Live at Acropolis (Yanni) 0 6.178 10/11/2011 - 12:20 Portuguese
Videos/Music Keys of imagination (Yanni) 0 6.214 10/11/2011 - 12:01 Portuguese
Videos/Music You Raise Me Up (Josh Groban with African Children Choir) 0 11.120 10/10/2011 - 23:17 English
Videos/Music Ave Maria (Soweto Gospel Choir) 0 8.529 10/10/2011 - 23:08 English
Videos/Music Khumbaya (Soweto Gospel Choir) 0 6.124 10/10/2011 - 23:06 English
Videos/Music Nkosi Sikelel'iAfrika (Soweto Gospel Choir Blessed in Concert) 0 11.989 10/10/2011 - 23:00 English
Videos/Music Amazing Grace (U2 & Soweto Gospel Choir) 0 12.400 10/10/2011 - 22:57 English
Poesia/Poetrix Crepúsculo 0 3.637 10/10/2011 - 22:23 Portuguese
Poesia/Intervention O amanhã sempre chega... 0 4.075 10/10/2011 - 22:20 Portuguese