AS LINHAS COM QUE ME COSO

Sou rabisco inacabado
numa sociedade feroz
peixinho sem guelra
em saco de água atroz.
Enfiado em caixa de cartão
encomenda sem destino definido
primeiro charro na boca
sela um destino vencido.
Acendo mais um cigarro
suspiro sonhos em forma de ar
e as linhas com que me coso
esperam em espelho prontas a inalar.

Imagem do corpo estendido
perdido em sonhos injectados
vontade quebrada vencida
em algemas de pulsos amarrados.
saio para a rua com a dor de um açoite
páro o carro e uma puta pede dinheiro por uma noite
promete cama quente e viciosa
como se pagar a pudesse tornar formosa.
E o cérebro que explode
em convulsões de ansiedade
procura o dealer que é deus
e vende sonhos por verdade.

Aqueço uma colher de comida
que me enche o estomago vazio
numa refeição injectada em seringa
e torna o movimento do corpo sadio.
E nas linhas da vida no espelho ajeitadas
patino em sonhos de criança
e o prato vazio na mesa
tras-me a fome a lembrança.
Bate como policia armada
no corpo que ja não me pertence
com a ressaca que alastra no vício
e a alma não esquece nem vence.

E a puta oferece seu corpo outra vez
insinuando as curvas que não almejo
sou criança que brinca com faca
num perigo que não vejo.
Acordo de uma noite por gravar
num cérebro que insiste em me abandonar
e a mulher que dizem ser da vida
sai de casa guardando os trocos que acabou de ganhar.
Espero de novo em caixa de cartão
encartado em espaço exiguo
esperando sentir novas sensações
provocadas em constantes alucinações.

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Wednesday, August 31, 2011 - 14:23

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Rui Afonso dos Santos

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