Da janela, a infância
Bela é a música que beijou meus ouvidos
e me trouxe lembranças de infância...
lembranças das gotas de chuva que eu via pela janela,
do cheiro das manhãs meninas cheias de alegria.
Da janela eu via meu mundo inteiro,
via minha rua com suas casas térreas;
cada uma de uma cor, algumas com jardins,
outras com garagens para os carros das famílias.
Via também as montanhas que formam a serra,
sempre verdes, sempre com a mesma textura;
davam-me a impressão de uma muralha divina
que separava meus sonhos da realidade.
Meus sonhos de criança ficavam do outro lado das montanhas,
meus amigos e inimigos eu podia ver todos, da janela;
via os carros que passavam rapidamente pela rua
e seus motoristas com as faces atentas.
O pôr do sol parecia sempre mais bonito quando visto da janela,
parecia que era só para mim, mas mesmo assim
eu sentia uma tristeza enorme, uma impressão de que
o sol estava morrendo e que a noite era escura em seu luto.
Os pássaros acrobatas pareciam sorrisos alados,
de vôo em vôo representavam melhor do que qualquer coisa
o significado da liberdade posta em prática,
e o melhor - eles não notavam que eram livres.
A eletrecidade chegava pelos fios que eu via pela janela,
a linha telefônica também; todos emaranhados,
negros e com restos de pipas que as outras crianças,
por descuido ou má sorte, deixavam enroscadas.
Lembro-me de cada céu, de cada chuva, de cada estio,
eu via e acompanhava tudo e nada me notava,
eu acompanhava cada mudança em minha rua,
sabia tudo sobre meu mundo, sem sair da janela.
Mas eu pagava um preço por tudo isso...
não podia ver aquilo que realmente me pertencia;
meus sonhos de criança estavam atrás das montanhas
e meus olhos não os alcançavam, da janela.
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