Da janela, a infância

Bela é a música que beijou meus ouvidos
e me trouxe lembranças de infância...
lembranças das gotas de chuva que eu via pela janela,
do cheiro das manhãs meninas cheias de alegria.


Da janela eu via meu mundo inteiro,
via minha rua com suas casas térreas;
cada uma de uma cor, algumas com jardins,
outras com garagens para os carros das famílias.


Via também as montanhas que formam a serra,
sempre verdes, sempre com a mesma textura;
davam-me a impressão de uma muralha divina
que separava meus sonhos da realidade.


Meus sonhos de criança ficavam do outro lado das montanhas,
meus amigos e inimigos eu podia ver todos, da janela;
via os carros que passavam rapidamente pela rua
e seus motoristas com as faces atentas.


O pôr do sol parecia sempre mais bonito quando visto da janela,
parecia que era só para mim, mas mesmo assim
eu sentia uma tristeza enorme, uma impressão de que
o sol estava morrendo e que a noite era escura em seu luto.


Os pássaros acrobatas pareciam sorrisos alados,
de vôo em vôo representavam melhor do que qualquer coisa
o significado da liberdade posta em prática,
e o melhor - eles não notavam que eram livres.

A eletrecidade chegava pelos fios que eu via pela janela,
a linha telefônica também; todos emaranhados,
negros e com restos de pipas que as outras crianças,
por descuido ou má sorte, deixavam enroscadas.


Lembro-me de cada céu, de cada chuva, de cada estio,
eu via e acompanhava tudo e nada me notava,
eu acompanhava cada mudança em minha rua,
sabia tudo sobre meu mundo, sem sair da janela.


Mas eu pagava um preço por tudo isso...
não podia ver aquilo que realmente me pertencia;
meus sonhos de criança estavam atrás das montanhas
e meus olhos não os alcançavam, da janela.

 


 

Submited by

Saturday, September 17, 2011 - 01:28

Poesia :

No votes yet

Cortilio

Cortilio's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 3 years 7 weeks ago
Joined: 08/31/2011
Posts:
Points: 1503

Add comment

Login to post comments

other contents of Cortilio

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Aphorism A cabeça é uma fábrica de sonhos 0 1.152 09/07/2011 - 15:25 Portuguese
Poesia/Song Esboço 0 1.795 09/06/2011 - 23:40 Portuguese
Poesia/Song Paranóico blues 2 929 09/06/2011 - 23:36 Portuguese
Poesia/Passion Oitavas a uma estrela 0 1.598 09/06/2011 - 12:35 Portuguese
Poesia/General Palma espalmada 0 973 09/06/2011 - 01:51 Portuguese
Poesia/General Rubras rosas 0 1.258 09/05/2011 - 22:21 Portuguese
Poesia/Sonnet O conto da crisálida 0 1.118 09/05/2011 - 01:57 Portuguese
Poesia/General A noite tece 0 1.325 09/04/2011 - 23:22 Portuguese
Poesia/General Mudo 0 1.190 09/04/2011 - 23:20 Portuguese
Poesia/General Sineira sinóptica 0 868 09/03/2011 - 18:41 Portuguese
Poesia/Love Maria, Rosa 0 1.434 09/03/2011 - 12:55 Portuguese
Poesia/General Difícil quem se é 0 781 09/02/2011 - 23:14 Portuguese
Ministério da Poesia/Passion A pura rima – agostina 0 2.682 09/02/2011 - 12:59 Portuguese
Poesia/Sadness Lamento de um anjo 0 1.003 09/02/2011 - 11:31 Portuguese
Poesia/Sonnet Soneto da chuva de quimeras 2 1.455 09/02/2011 - 01:59 Portuguese
Poesia/Passion A pura rima – agostina 0 1.420 09/02/2011 - 01:11 Portuguese
Poesia/General Em órbita 0 1.162 09/01/2011 - 02:07 Portuguese
Poesia/General Canto do rei nagô 3 1.451 09/01/2011 - 01:15 Portuguese
Poesia/Aphorism Acredito 0 769 09/01/2011 - 00:19 Portuguese
Poesia/Aphorism Doçura 0 1.845 09/01/2011 - 00:16 Portuguese
Poesia/Dedicated O sempre e o nunca mais 0 663 09/01/2011 - 00:08 Portuguese
Poesia/General Eu... madrugada 0 1.725 09/01/2011 - 00:03 Portuguese
Poesia/Passion Soneto que sigilo 0 912 08/31/2011 - 23:47 Portuguese
Poesia/General Pseudo-soneto ladino 0 1.407 08/31/2011 - 23:46 Portuguese
Poesia/General Filhos de abril 0 1.030 08/31/2011 - 23:37 Portuguese