Poderás ser a nossa Paz? (Dom Pedro Casaldáliga)
A maltratada paz das tuas costas,
mapa-mundi de todas as feridas,
anuncia à contraluz o Evangelho.
Costas feridas da Grande Cidade,
as vidas proibidas dos teus pobres
denunciam os cimentos do Sistema.
Entre o Norte e o Sul
a cruz do mundo,
a cruz do Terceiro Mundo,
é ainda a tua Cruz!
Todas as guerras enterram os seus obuses
na tua terra nua da tua carne.
Como gretas de noite envergonhadas,
a miséria recolhe os seus lucros
sob o pranto de sangue dos teus olhos, e o clamor dos pobres
emoldura tuas têmporas
como uma cruz de espinhos.
Contra a paz do Céu brasfemada,
sobre a paz calada dos mortos,
o Império levanta sua Babel:
a paz do Primeiro Mundo!
Paz, paz, paz... e não há paz!
Porque negam a passagem às estrelas,
porque afogam as flores em petróleo,
porque venderam o Justo,
porque mataram o Pobre.
Poderás ser a nossa Paz?
Dom Pedro Casaldáliga, poeta e ex-bispo da Prelazia de São Felix do Araguaia - MT, Brasil.
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