Do Dia Em Que Choveram Falos
Certo dia choveram falos,
de agastadas nuvens da lascívia,
e como antes nunca,
variância à cor nos cardumes corais,
por termodinâmicas o sobejo,
dos tamanhos a divergência da alcateia,
tenazes dentes do lobo.
Do ameno temporal da indolência,
aniquiladas divinas protecções,
porque em alpendres de cimentos crucificados,
chaves trancam-se às fechaduras,
dos laníferos nada mais,
impenetrável tosquia às chuvas.
Uns gemiam,
outros fugiam,
se alguns se enclausuravam,
quebra do vidro canonizado,
sagrados casebres ao dia de não serem.
Uns lançavam-se às tumbas,
tigres da devota secura,
rumo aos horizontes paradisíacos,
por continência eterna,
no encerramento do sarcófago,
intrusiva gota itifálica,
ardente estampa da perdição,
do vivo sepultado.
Das delícias a penetração na suplica,
como inverso de identidades,
colérico veludo ao rugido,
em gemido da brutalidade sensual,
e porque a indiferença jazia,
ontem.
Por fátuo ardente incredulidade,
arrepio ao silêncio,
rogada fogueira do orvalho,
dos estranhos o clarão das pupilas,
como inédito palpite ao inverosímil,
longas sintonias ao ruidoso.
Desnudados adornos corporais,
dos ventres,
por pilhas em revestimentos,
uma labareda do desejo,
penetrada chuva ao nu.
E porque preces chegavam,
à inexistência dos deuses,
os uivos,
quando falecidos,
os uivos,
se ausentes de atenção,
os uivos,
credos na humidade transgressora.
Porque a castidade não se fez cinto,
dissolvência temporal no desejo sanguinário,
hímenes,
rectos,
gargantas,
ao naufrágio na ébria luxúria.
Já nádegas queriam,
chicotear o chicote.
Já pulsos queriam,
algemar a algema.
Já dorsos queriam,
arranhar a unha.
Já pernas queriam,
amarrar a corda.
E porque os fluidos enchiam horizontes,
imaculada neve,
ao pico da emergência,
manto banhado à secura areal,
interjeições para gorgolejo angelical,
como precursão bramida do festim.
© BM Resende
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Comments
Re: Do Dia Em Que Choveram Falos
Uns gemiam,
outros fugiam...
Espectacular!!!
Um festim bem poetado!!!
:-)