Uma certa e razoável sujidade do amor
No encanto das coisas há implicito uma certa sujidade, uma certa sujidade da vida, uma certa e rázoavel sujidade do amor. O encanto das coisas é elas não estarem submetidas a pactos. Há no trabalho da reprodução da natureza uma sujidade legitima. O encanto das coisas é elas terem um misto de podre e de fresco. O encanto dos homens e das ruas, o encanto dos olhos e o encanto do coração é haver uma certa sujidade dos costumes. A imoralidade das palavras, a navegação dos dias, a ausência do tempo na suja ocupação da inutilidade dos poetas. A inutilidade de tudo é o sentido para não se invadir, para não se violar a tranquilidade dos pássaros e das árvores e das nuvens que passam no céu e que passam na admiração dos peixes e que estão no despertar e no adormecer. O encanto das coisas é elas terem a morte. A morte é a vida a sujar-se e o nosso renascer é um grito sujo, tão sujo como um rufar de tambores, tão sujo como uma paixão selvagem, um modo sujo de andar de crescer. O encanto das coisas não é elas terem fogo ou elas terem água. Não é o encanto das coisas haver solidão nas casas e cinza nos borralhos para santificar a agilidade dos gatos. O encanto das coisas é a contradição entre as mãos e os pensamentos. Na cinza do borralho a agilidade dos pensamentos. O encanto sujo das coisas é elas perderem o sentido de rumo absoluto. O sujo encanto das coisas é haver quem derrube muros, quem derrube leis. O encanto das coisas é a profunda liberdade dos seres, sujar é o modo limpo de perder o medo de se tocar a natureza. lobo 05
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1482 reads
Add comment
other contents of lobo
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Prosas/Ficção Cientifica | Alguem te olha os olhos escuros | 0 | 2.156 | 11/18/2010 - 23:05 | Portuguese | |
Prosas/Lembranças | Mãe pode ser um momento vago , primeira parte | 0 | 2.135 | 11/18/2010 - 23:05 | Portuguese | |
Prosas/Others | Havia um espírito cheio de pregos | 0 | 1.429 | 11/18/2010 - 23:05 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Assim continuamos a tirar vermes da cartola. | 0 | 1.261 | 11/18/2010 - 23:03 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Anda alguem a desacertar o relogio do mundo parte 5 | 0 | 2.269 | 11/18/2010 - 23:03 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Ter os olhos pousados nas estradas | 0 | 1.651 | 11/18/2010 - 23:03 | Portuguese | |
Prosas/Others | Seguimos os gestos que a cidade desenha nos corpos | 0 | 1.518 | 11/18/2010 - 23:03 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Estou a perder-me | 0 | 1.518 | 11/18/2010 - 22:56 | Portuguese | |
Prosas/Others | A princesa ama o dragão | 0 | 2.591 | 11/18/2010 - 22:55 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Menino Jesus vamos jogar ao monopolio | 0 | 1.405 | 11/18/2010 - 22:51 | Portuguese | |
Prosas/Ficção Cientifica | Ainda há policias bons | 0 | 2.219 | 11/18/2010 - 22:51 | Portuguese | |
Prosas/Others | a alma nhaé como o cume da monta | 0 | 2.219 | 11/18/2010 - 22:50 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Rua da paragem sem álcool | 0 | 1.749 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Others | Coisa que a morte não faz | 0 | 1.842 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | As leituras sobre a natureza | 0 | 2.161 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Entrego-me ao rio | 0 | 1.668 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Ficção Cientifica | A rapariga dos sapatos vermelhos 3 | 0 | 2.035 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Ficção Cientifica | Um certo tempo do amor | 0 | 2.028 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Ficção Cientifica | Assim de repente | 0 | 1.698 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | A rapariga dos sapatos vermelhos | 0 | 1.799 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | A rapariga dos sapatos vermelhos 2 | 0 | 1.679 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Others | Os cavalos amarrotam o papel 3 | 0 | 2.664 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Ficção Cientifica | A mulher que tinha sémen nos olhos parte 3 | 0 | 1.474 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Mistério | Não era milagre andar sobre as águas | 0 | 1.589 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Os cavalos amarrotam o papel. 2 | 0 | 1.563 | 11/18/2010 - 22:47 | Portuguese |
Comments
Re: Uma certa e razoável sujidade do amor
O encanto das coisas é a profunda liberdade dos seres, sujar é o modo limpo de perder o medo de se tocar a natureza.
Sem réstia de dúvida!!!
Re: Uma certa e razoável sujidade do amor
Gostei.
Na verdade "O encanto das coisas é elas terem um misto de podre e de fresco. ...
O encanto das coisas é elas não estarem submetidas a pactos."
Talvez seja esse o encanto da tua escrita.
Abraço