A turma

A turma era pequena.
O número de alunos parecia indicar que era fácil chegar, ensinar e partir.
Mas o número enganava.
Chegar era fácil, não havia nada de especial a fazer. De carro, autocarro, bicicleta, a pé… qualquer meio de transporte me fazia chegar. E o relógio, esse fazia com que chegasse a tempo e horas, ou me encontrasse atrasada junto ao portão da escola.
Chegar à sala também não criava qualquer complicação, abrindo o portão, em passo apressado atravessava o pátio da escola e entrava no edifício. Daí á sala de aula apenas um lanço de escadas, subido com entusiasmo, ouvindo-se já o burburinho próprio de uma sala de aula, como sinfonia para os meus passos.
Entre a turma e eu apena uma porta tantas vezes aberta com carinho, com pressa, com nervos, com entusiamo, para o reino do saber. E depois de entrar, não houve volta a dar.

A turma era pequena, mas olhos enormes enchiam a sala à procura de tudo e de nada, varrendo o universo da curiosidade.
Cheguei, atravessei o limite que permitia ainda voltar atrás e fiquei prisioneira.
Foram os olhos, sedentos de afeto, ávidos de conhecimento, que me abraçaram e me fizeram querer novamente ser criança para poder ter na mão todas as possibilidades, todos os sonhos.
Não mais encarei aquela porta como uma saída, era um ponto de passagem para o regresso, para o reencontro. Olhos iluminados fizeram-me procurar mais, levaram-me a querer ser reflexo da sua existência. E como não há magia capaz de me transformar, dei asas à ansia de o ser existente em mim e procurei tudo o que no meu mundo, em muito frio e calculista, poderia dar cor e vida ao futuro destes pequenos lutadores.
A turma era pequena, mas foi apanhada no rebuliço do tempo e cresceu. Eram os mesmos alunos, mas já não cabiam nas suas roupas, nem nos sonhos de meninos e procuraram a porta da sala. Procuraram-na não para o regresso mas para a descoberta de novos horizontes. Precisavam de novas salas, de novos olhares para um mundo que de repente se abrira a todas as possibilidades.
E eu não tive tempo de me preparar para o choque de não mais encontrar aquele olhar sonhador de menino com vontade de conquistar o mundo. Partem já com atitude de dono e senhor de tudo o que houver a desbravar e, se por acaso guardarem um cantinho do coração para me levar, com eles abrirei novas portas.

A turma era pequena. O número de alunos parecia indicar que era fácil chegar, ensinar e partir. Mas a partida foram eles que ma pregaram, obrigaram-me a ficar a vê-los levantar voo e a desejar do fundo do meu ser que guardem sempre o desejo de ser mais e melhor.

Submited by

Tuesday, July 17, 2012 - 00:17

Prosas :

No votes yet

Lúcia Barata

Lúcia Barata's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 4 years 30 weeks ago
Joined: 07/10/2012
Posts:
Points: 47

Add comment

Login to post comments

other contents of Lúcia Barata

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Meditation Desaparecer 0 545 02/16/2013 - 21:25 Portuguese
Poesia/Meditation Não 0 437 08/28/2012 - 21:44 Portuguese
Poesia/Meditation Segundos 1 552 08/26/2012 - 01:12 Portuguese
Poesia/Meditation Peace of mind 0 726 08/14/2012 - 12:18 English
Poesia/Meditation Life 0 761 08/14/2012 - 12:12 English
Poesia/Meditation Sair 0 457 08/06/2012 - 21:38 Portuguese
Poesia/Joy O Poema 1 729 08/05/2012 - 19:15 Portuguese
Prosas/Saudade Eternos Rituais 0 1.176 07/30/2012 - 16:47 Portuguese
Poesia/Meditation A vida. justa ou injusta 1 620 07/26/2012 - 22:46 Portuguese
Prosas/Saudade A turma 0 981 07/17/2012 - 00:17 Portuguese