II – Dei os beijinhos todos ao Bu

Entre dois adultos que se amam não deveriam meter crianças doces ao barulho. São momentos que marcam para sempre intimidades partilhadas doçuras como rebuçados que se mostram mas não se dão que roubam parte de nós porque parte de nós fica presa a esse momento.

Quatro da manhã temos que ir dormir. Estou agora a subir as escadas. Hoje vou dormir com a Bianca ela tem medo e habituou-se durmo com ela de vez em quando. Um zip estou-me a despir. Agora vou-me meter na cama acho que ela está a acordar. Shiuuu dorme meu anjo o pai vai-se deitar. Ouve-se uma voz ensonada do outro lado em sussurros. Estás a falar com quem. Uma amiga do pai. Diz olá. 

- Olá

- Olá princesa, acordada a esta hora? Vai fazer óó, é tarde.

- Sim

- Dá um beijinho e vem dormir vá (dizia o pai)

- Mas já não tenho beijinhos para ti, dei todos ao Bu. Não tenho mais.

- Ohhh, assim fico triste.

- Não fiques. Eu faço mais amanhã e guardo para ti, está bem? Não fiques triste. Mas agora é tarde. Dei ao Bu. Não tenho mais.

- Está bem princesa, não fico triste mas amanhã não te esqueças de mim, está bem?

- Não esqueço.

Intimidades a rasgarem a madrugada. Promessas. Uma família a três que não o poderia ser. Mas foi. Ao longe.

Sabes ela já viu a tua fotografia. Um dia pediu-me. Perguntou quem eras. Sabe quem és. Gostou de ti. Sabe quem és quando lhe falo de ti. Sabes, perguntou quando vinhas. Quando vens?