Oitavas à uma estrela
I
Oh! Estrela! Tua luz encerra
Mais um dia nessa vil terra -
Candeeiro remoto de fogo
Químico - a noite propalas...
Hoje tu és mais que consolo,
Pois aquela quem se disse minha,
Aquela quem eu fiz rainha,
Deixara mudas minhas palavras...
Oh! Estrela! Celeste é teu corpo
Que vaga no silêncio escuro e morto...
Não creio que onde estás a fulgir
Haja silêncio maior que no peito
Desse que está a sucumbir...
Pois aquela que os meus lábios
Tocaram em beijos cálidos,
Deixara-me enfermo em leito...
II
Oh! Estrela! Minh’alma
Sonha com tua luz - Alva!...
Enxuga meus olhos plangentes
Que brilharam um dia como ti,
Ao gozar de um amor nascente.
Vivem agora na vã lembrança,
Tentam esquecer o que é esperança
E molhados estão a transir...
Oh! Estrela! Acabara a fantasia!
E tudo o que o coração improvisa...
Ser louco perdido de paixão
É pernoitar com o regozijo -
Mais sólida raiz de vibração -
Deixar o sangue sorrir nas veias...
Pisar onde o céu se deita...
Estar com Deus cingido...
III
Oh! Estrela! Ouve minha prece!
Pois - Ah!... se eu pudesse -
Dos astros seria semelhante...
Sentiria, mesmo que ao longe
A ávida aflição dos amantes.
Ao mesmo momento contemplado
Por uns; por muitos, ignorado -
Quem tem luz não se esconde!
Oh! Estrela! Pobre de mim!
Meus pés ainda trazem a terra do jardim
Que pisei a regar a mais linda flor...
E dela hoje sobram somente
As sombras imaginárias do meu amor
De uma luz que já se foi...
Assim quando o sol se põe.
Não me restam nem sementes!
IV
Oh! Estrela! Que eu seja breve!
Pois essa noite fria como neve
Está por chegar ao fim...
Se rosa não deu certo
Quem sabe tenho sorte com jasmim?
Margarida ou crisântemo é possível?
O que não é admissível
É meu jardim permanecer deserto...
Oh! Estrela! Já é dia!
Dorme em tua fotofobia!
Que teu brilho - agora findo -
Renasça na noite próxima
E que seja cada vez mais lindo...
Terminado está meu romance
Tudo foi-se num instante
Mas minha redenção é póstera...
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