Amadureço

...hoje que estou mais maduro,
Não no que digo, mas no que penso,
Ou sobretudo no que me esqueço
De dizer,
Pondero mais vezes...
Duas, em algumas ocasiões,
Conforme a idade mo permita.
Por vezes já passei os trinta,
Por vezes não.
Por vezes ter mais de quarenta
É ilusão
Que não me incomoda
Nem me lembra.

Lembra-me agora o nome do vinho,
Mas não o digo.
Não quero saber de maturidades
Nem do que for.
Não me interessam as verdades
Que trazem de volta a dor
Em cada ressaca,
Ou até, ainda a escorrer pela goela.

E penso nela...
E bebo mais um copo.
É isto a maturidade,
O beber sem necessidade
Só porque apetece!
E porque o raio da mulher não desaparece
Senão assim,
Numa garrafa que chega ao fim
E que arrasta consigo
Tanta ansiedade...
Então depressa se faz tarde
E o mais que me lembre
Não será forte como o sono que me toma.

Amadureço assim...
A cada retoma que me dou,
Cálice após cálice,
Garrafa após garrafa,
Tristeza após tristeza.
Amadureço com a firmeza
De não dar por nada
Senão pelas mesmas coisas de sempre.