O fantasma da velha escola - 17
Aquela noite, Alfredinho teve um sonho inexplicável. Sonhou que passava em frente à velha escola e ouvia uma voz a chama-lo:
-Alfredinho, venha brincar comigo, por favor. Eu estou tão só.
Amedrontado, pedia:
-Não, deixe-me em paz!
-Não posso, Alfredinho. Você não veio aqui, não pisou no terreno que o aconselharam a não pisar? Uma vez que você pisou aqui, os mortos não querem que você volte!
-Não, por favor!
Então, Alfredinho via que quem o chamava era Lilith.
-L-Lilith?
Ela estava muito perto do portão, trajando longa túnica negra, os cabelos soltos, a pele pálida se assemelhando a cera e as pupilas totalmente dilatadas. Marcas arroxeadas emolduravam-lhe os olhos como discretos hematomas e uma das mãos finas segurava uma vela.
-Lilith, por que me chamou?
-Temos que completar o círculo, Alfredinho. Estamos todos mortos. Veja.
Súblito, Marcão e José Afonso surgiam atrás dele, igualmenter mortos e pálidos.
-Hora de se juntar a nós, Alfredinho.
Marcão e José Afonso o agarraram e ele gritou:
-Soltem-me, malditos!
Como mortos podiam ter tanta força? E, além daquilo, as mãos frias tinham um toque repugnante.
-Soltem-me!
-Nunca, Alfredinho!
Lilith apenas olhava, impassível.
Alfredinho acordou suado e trêmulo. Podia jurar que sentira as mãos da morte a agarrá-lo.
-Que será que isso significa, meu Deus?
O que ocorrera na casa de Lilith fora indescritível. Ele nunca poderia imaginar que coisas daquele tipo pudessem acontecer. E que fossem tão horríveis. Sentira toda a ira de José Afonso, a maldade da menina e o perigo de mexer com o sobrenatural. E sabia que nada mais seria o mesmo agora que sua mãe, os pais de Lilith e os de Marcão haviam passado a saber do vergonhoso segredo.
-Minha vida acabou.
Trocou de roupa para ir à escola. Podia escutar sua mãe preparando o desjejum. No dia anterior, quando haviam deixado a casa de Lilith, ela dissera:
-Eu lhe avisei para tomar cuidado com más companhias! Como você foi se meter com gente como o Marcão e a Lilith, Alfredinho?
Torturado pela lembrança, foi à cozinha. A mãe perguntou:
-Dormiu bem, meu filho?
-Sim, mãe.
-Por favor, nunca mais se meta com aquela Lilith. Ela não é normal. Nem com o Marcão.
-Mãe, a Lilith não é louca. Ela realmente vê gente morta. E tudo o que eu contei aconteceu mesmo.
-Mais um motivo para se afastar dela. Que bem ela lhe fez?
-Ela me avisou para não ir à velha escola, mãe. Eu devia tê-la ouvido.
-Isso não importa agora.
-Não, mãe? Não importa? O Marcão, o José Afonso e eu fizemos a burrice de ir lá, e depois o Marcão e eu fugimos! Nós fomos covardes, mãe! Será que não vê? Eu sou culpado, o Marcão é culpado, o José Afonso foi culpado! A Lilith é a única inocente nesta história!
-Meu filho, cale-se! Nunca mais diga essas coisas! Que culpa você teve da morte do José Afonso ou daquela menina ter incorporado espíritos? Se ela pode fazer essas coisas, ela é uma aberração!
Alfredinho se calou, não porque concordasse com a mãe, mas por ver que seria inútil continuar discutindo com ela. Tomou o café da manhã em silêncio, mal sentindo o gosto da comida.
Quando ela o deixou na escola, aconselhou-o:
-Mantenha-se bem afastado do Marcão e da Lilith, meu filho.
Despediu-se da mãe e desceu do carro, pensando em como seria o seu dia. Teria peito para encarar Marcão e Lilith depois do que acontecera? Tinha a impressão de estar vivendo um pesadelo.
"É estranho como tudo isto que estou vivendo não faça sentido embora seja real."
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 2695 reads
other contents of Atenéia
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Meditation | Aonde pode | 0 | 960 | 07/11/2014 - 19:46 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Apenas cinzas | 0 | 1.084 | 09/29/2015 - 20:38 | Portuguese | |
Poesia/Love | Apenas me abrace | 0 | 593 | 10/05/2012 - 21:44 | Portuguese | |
Poesia/Gothic | Apenas um nada | 0 | 1.354 | 10/20/2014 - 23:06 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Aquele amor | 0 | 1.999 | 01/06/2015 - 13:45 | Portuguese | |
Poesia/General | Aqueles olhos | 0 | 1.542 | 09/12/2016 - 14:15 | Portuguese | |
Poesia/Love | Armadilha | 0 | 1.724 | 12/18/2013 - 21:02 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | As dores são muitas | 0 | 2.034 | 03/27/2013 - 19:31 | Portuguese | |
Críticas/Movies | As duas versões de Halloween | 0 | 2.218 | 12/11/2014 - 20:13 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | As flores não mudam | 0 | 1.196 | 06/17/2016 - 19:35 | Portuguese | |
Poesia/General | As pessoas nos julgam | 2 | 1.561 | 08/03/2016 - 10:25 | Portuguese | |
Poesia/Love | Até o infinito | 0 | 1.398 | 08/08/2015 - 12:29 | Portuguese | |
Poesia/General | Até quando | 0 | 2.612 | 10/04/2016 - 14:05 | Portuguese | |
Anúncios/Miscellaneous - Offers | Aulas particulares | 0 | 3.940 | 03/24/2013 - 18:35 | Portuguese | |
Poesia/General | Autodefinição | 0 | 1.620 | 09/26/2015 - 20:28 | Portuguese | |
Poesia/Haiku | Aves | 0 | 2.816 | 08/26/2016 - 19:05 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Aves solitárias | 0 | 2.862 | 09/29/2012 - 13:30 | Portuguese | |
Poesia/Love | Be loved | 0 | 4.114 | 09/13/2014 - 12:31 | English | |
Poesia/General | Beasts | 0 | 3.630 | 05/06/2011 - 23:51 | English | |
Poesia/Passion | Beija-me | 0 | 1.275 | 10/03/2012 - 18:36 | Portuguese | |
Poesia/Haiku | Beijo | 1 | 2.660 | 06/30/2014 - 00:38 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Being alone | 0 | 3.806 | 10/25/2015 - 11:05 | English | |
Poesia/Haiku | Bem-te-vi | 0 | 2.904 | 11/23/2014 - 14:01 | Portuguese | |
Poesia/Gothic | Black magic | 0 | 4.727 | 05/19/2015 - 10:35 | English | |
Poesia/Haiku | Borboleta amarela | 1 | 3.047 | 06/13/2014 - 23:58 | Portuguese |
Add comment