O Licórnio

Perdeu a face ao acarretar nas cerdas o ofício
De deus das coisas de pequenas montas,
Depois criou um corno contra o mau feitiço,
Mas deixou-o na fé do homem-das-lendas,

Encalhou uma pata no marejar do mar,
E eu perdi a dor ao altear da terra,
O escombro sem sombra que (ainda hoje) me soterra,
Antecipo mesmo a gaivota a chiar,

No ruído branco do esquecimento,
Diluímo-nos juntos, no silêncio do armário
Resguardado, no quarto oculto (à porta fechada)
Esperando um temporário armistício,

Ou o intermediário geral da guerra,
Que o desfecho desta venha anunciar,
E a orla de areia fina seja Fronteira segura,
Onde coisa alguma nos pode derrotar,

(pressinto que os deuses nos amaram nesse lugar em tempos)

E corremos, corremos na praia, passageiros do temporal,
Sabemos-de-cor o sussurrar do vento aguaceiro,
E sinto-me beijado como herdeiro do sal
E dos deuses exilados das guerras e do futuro.

Jorge Santos (04/11/2010)
http://joel-matos.blogspot.com

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Monday, March 5, 2018 - 10:31

Ministério da Poesia :

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