ACIDENTE

ACIDENTE

Nasceu sem amor e sem carinho
A mãe, grávida ainda adolescente
Fora errante no caminho
Chamou sua chegada de acidente

A mãe o viu como um novo brinquedo
Então não fora abortado
Ela não tinha sonho, nem medo
Ele não fora esperado

Cresceu como a sorte quis
Nas ruas, jogado na casa de vizinhos
Fazia o que podia pra ser feliz
Brincava de bola, caçava passarinhos

Na escola ia de mal a pior
Em nenhuma reunião a mãe ia
Aspirava por uma vida melhor
Coisas que ainda não conhecia

Largou o estudo e a casa que morava
Cansado de maus tratos e indiferença
Caiu no mundo do crime, se entregava
Às drogas, acabando com a inocência

Por várias vezes fora pego e advertido
E solto logo depois, era menor de idade
Roubava seu sustento, era assim, atrevido
Quando homem se fez, já conhecia a maldade

Para matar e traficar foi um passo
Não conhecia Deus, ninguém lhe apresentou
Não tinha piedade, era um devasso
Que a vida medíocre lhe transformou

A mãe não teve mais notícias do filho
Também não se preocupou em procurar
Para ela, livrou-se de um empecilho
Dava muito trabalho, era de amargar

Muito tempo depois, anos de sumiço total
Fora chamada no IML, para reconhecer
O corpo do próprio filho, que se julgava imortal
Mas chamou pela mãe, pouco antes de falecer

Cuidemos de nossas crianças, nossa responsabilidade
Demos muito carinho, educação, afeto e amor
Não nos percamos da dura realidade
Que o mal circula no vento, como calor

Que esta história que bem podia ser real
Seja apenas uma lição, um aprendizado
Filhos não são acidentes, como disse a tal
É uma nova vida, uma benção, um ideal