Dos Idos do Sonho às Kalendas da Realidade

E quanto mais fundo cairmos, de mais fundo se levantam os alicerces de um novo mundo, de uma nova ordem… Do Outono se prepara a Primavera! Entra na janela da LUZ…

Procurar a escuridão que facilite o esquecimento dos limites duros e espremidos em que conduzimos – ou somos conduzidos – pelos meandros exigentes da existência; Encontrar o portal da luz dos sonhos que facilite lembrar que ainda é possível a direcção salubre da vida!

Adormecer para os maus-tratos do fracasso dos planos, para o corte das asas da esperança e do rumo do futuro; Afundar em sono profundo para ignorar o batelão de feridas das más surpresas e da traição do Homem; Anestesiar a consciência para suprimir os despertares da dor destilada pelo ódio e pela disputa dos pares; Perecer em vida para não sentir os tormentos dos engodos e dos desenganos do amor…
Crescemos tanto, construímos tantas ideais e tantos materiais. Tentamos apertar volumes imensos com braços tão curtos e arriscamos o desespero da desilusão pelas ambiciosas passadas dos nossos pés de barro, tão fragilmente expostos à desintegração.

E então, longe da vigília torpe, passear pelo quadro idílico do mundo querido, do mundo que desejamos para nós e para os outros. Ganhar a valentia do invicto e entrar na farda do pedreiro: Eu vou erguer este mundo, pedra a pedra, sonho a sonho!

Em cada prédio uma árvore… melhor, em cada árvore um lar! Afinal, podemos viver numa floresta – que não precisa ser encantada, só natural –, um bosque de tolerância, de solidariedade, de cooperação.
Adormecido nos teus olhos verdes, contemplo a inocência e a pureza com que nascemos. E se assim germinamos todos, porque caímos todos na tentação do maquiavelismo? Para quê crescer?
Talvez o segredo esteja no acarinhar da criança que em nós se fez e jamais morreu. Está apenas resguardada no jardim secreto que todos temos. Brinca ainda, protegida pelo exército de guardas pujantes e desconfiados que plantamos na entrada do portão do nosso EU.
Apartar as armas e escudos com que cumprimentamos o próximo, e substituir as couraças de defesa pela singela túnica da harmonia: Libertem os pirralhos alegres e espontâneos que têm abafados há demasiado tempo! Façamos, dos sonhos, um universo possível…

Mais do que ser infelizes com (o fracasso de) ambições desmedidas, devemos estar felizes com o que somos: aí tudo reside, aí tudo se decide…

XXV : IX : MMVI
Andarilhus “(º0º)”

Lírica: The Smiths: There's a light that never goes out

Submited by

Monday, April 14, 2008 - 21:47

Prosas :

No votes yet

Andarilhus

Andarilhus's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 13 years 36 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 868

Comments

Henrique's picture

Re: Dos Idos do Sonho às Kalendas da Realidade

Texto bem escrito em dom da palavra!

:-)

Add comment

Login to post comments

other contents of Andarilhus

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Aphorism Despertar 1 725 05/23/2008 - 21:46 Portuguese
Prosas/Others As Mutações da Máscara 3 895 05/19/2008 - 17:58 Portuguese
Prosas/Ficção Cientifica Yoanna 4 1.146 05/16/2008 - 21:39 Portuguese
Prosas/Contos Desfazer o Mundo 4 912 05/13/2008 - 00:28 Portuguese
Poesia/Disillusion Das certezas II 5 803 05/10/2008 - 20:20 Portuguese
Poesia/Meditation Das Certezas 4 588 05/09/2008 - 22:43 Portuguese
Prosas/Others Rosa-dos-ventos 2 845 05/06/2008 - 23:50 Portuguese
Poesia/Passion Ao Vento 1 929 04/23/2008 - 22:27 Portuguese
Prosas/Contos A Carta 3 934 04/22/2008 - 21:01 Portuguese
Prosas/Contos In mea limia 1 912 04/19/2008 - 11:01 Portuguese
Poesia/Meditation Sina... 2 1.025 04/18/2008 - 21:49 Portuguese
Prosas/Contos Iniciação 2 1.133 04/14/2008 - 17:03 Portuguese
Prosas/Contos Mare Nostrum 2 756 04/12/2008 - 22:26 Portuguese
Prosas/Contos SantAna Vitae Maestra 1 718 03/31/2008 - 21:30 Portuguese
Prosas/Contos O Circo da Vaidades Perdidas 2 975 03/30/2008 - 23:05 Portuguese
Prosas/Contos Santos e Mártires 2 655 03/29/2008 - 14:46 Portuguese
Prosas/Fábula Epifania 2 1.440 03/28/2008 - 22:30 Portuguese
Poesia/Sadness Desfiar o Castigo 1 908 03/28/2008 - 21:37 Portuguese
Prosas/Others Saudade 2 1.089 03/28/2008 - 00:16 Portuguese
Prosas/Contos Os Lugares do Nunca 2 891 03/26/2008 - 21:39 Portuguese
Poesia/Love Predilecta 1 642 03/26/2008 - 00:53 Portuguese
Prosas/Contos Afortunados os pobres de espírito 2 1.418 03/22/2008 - 15:03 Portuguese
Poesia/Intervention Aquele que... 1 1.054 03/21/2008 - 14:45 Portuguese
Prosas/Contos O Meu Jardim Presépio 1 934 03/19/2008 - 19:56 Portuguese
Poesia/Disillusion Transvaze para a fonte do ser 2 1.375 03/19/2008 - 19:12 Portuguese