Alucinação

Que fazes desse lado do espelho?
Porque te envolves nessas cortinas translucidas aguardando a faca, porque estranha razão o fazes, se nem sequer pertences a esse filme?
Estou aqui deste lado destilando os venenos da vida, tu conheces-me.
Sou eu quem afia as facas e prepara o alvo, mas o teu ser, esse nunca está no sitio certo, fica só o corpo à espera que o destino acerte os ponteiros, tombando trespassado sempre.
Ainda bem que as facas são feitas de uma liga de amor, tão afiadas como falos.
Que fazes aí?
Já viste o sol deste lado a fumar um charro estirado na relva? Fui eu quem lho vendi. Amanhã entrego-me prometo!
E a lua?
Não sentes falta da sua perversa linguagem?
Porque razão te encerras de neblina, porque estranha causa te comprometes estirada na ideia de relva, que só cresce deste lado?
Estou aqui. Olha-me! Outra vez, consegues?
Consegues rodar os olhos sem que o corpo tombe, sem que a faca te trespasse?
Fixa-te na distância que vai do atirador ao alvo. Fixa-te em mim e escapa...
Estarei na fronteira sempre, mesmo que tenha as mãos atadas e a boca amordaçada com palavras.
Desata-me!
Calça os meus passos, anda...
Toma a minha mão liberta, confia. O abismo não existe, é uma ilusão criada por Deus para que te descubras.
Caminha, anda...
Estilhaça-te.

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Sunday, February 22, 2009 - 16:36

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Re: Alucinação

Parabens, mesmo. Foi o primeiro texto que me tocou desde de que aqui me inscrevi. Foi o primeiro que li, reli e penetrei bem fundo a sentir o seu real prazer. Gosto de ler intensamente, mas gosto de poucos escritores. Só os da minha linguagem. Acabei de conhecer mais um. Muito prazer.
Os meus melhores cumprimentos,

Bárbara Fernandes.

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