Gato Pontilhado
O Elias, o meu cão foi dar uma das suas curvas diárias. Aparece-me acompanhado por um gato, faltava-lhe um olho e a cauda parecia o porta-chaves da minha vizinha de oitenta e seis anos. O coitado aparentava vestígios de luta.
Benedita: Elias, quem é este gato?
Elias: salvei-o de uma luta com a gata dele que pelos vistos tem a unha mais afiada que a língua.
Benedita: e agora, que lhe faço? é melhor levá-lo ao médico.
Gato: NÃO!! Tenho medo de médicos, descobrem o olho, depois são as patas, depois é o estômago e vai-se a concluir estou cheio de doenças. Nunca!
Pelos vistos a zanga foi pegada e o Elias é que os despegou.
Gato:...hm...gatas, são todas iguais, se gostamos delas não nos ligam, se não gostamos arrancam-nos os olhos...são todas iguais.
Elias: eu tenho mais sorte, as cadelas são sempre cadelas e gostamos delas assim.
Benedita: vá, gato, não penses assim, não são todas iguais, vais ver.
Gato: ver? só com um olho? desta não me refaço, tirou-me a sétima vida esta gata malvada. E nem gostava dela...
Benedita: olha, pelo menos ainda tens um olho. Eu ponho-te aí um pouco de mercúrio...
Gato: NÃO!! O mercúrio serve para medir a febre, não quero!
Elias: se quiseres vamos à procura dela e arrancamos-lhe as orelhas.
Gato: o quê?? Ía ficar contente, ela só tem quadros do Van Gogh na viela dela.
Benedita: então escolhe o Pontilhismo de Seurat. Imagina um quadro em branco e cada ódio, rancor que tiveres contra ela, acrescenta um ponto, de preferência colorido.
Gato: eu não vejo bem as cores agora só com este olho.
Benedita: inventa. Fá-lo todos os dias, um ponto e mais outro até teres finalmente o quadro todo. Não queiras o quadro todo de uma só vez, sim? Só assim te libertarás dessa gata. Pouco a pouco.
Gato: Elias, a tua dona devia ser gata, mas das boas. Vamos daí beber um copo à viela do Chaneco!
Elias: posso ir Benedita?
Ide lá! Não precisam de tantos olhos para ver tudo.
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Comments
Re: Gato Pontilhado
Parabéns pelo belo texto.
Um abraço,
Roberto