E quantos deixaram de viver?
Quantos barcos se perderam ao mar?
Quantas almas se colocaram a deriva?
Quantos acordados deixaram de sonhar?
Quem se sente morto com a alma viva?...
~
Quantos olhos azuis deixamos de enxergar?
Ou olhos castanhos, de castanhos tão perfeitos
Olhos verdes, como o verde do mar
Quais são os olhos, por outros olhos eleitos...
~
Devaneios sim, mas quais os que pairam no ar?
Como falcões em ataques tão certeiros...
Quantos sabores perderam-se no paladar?
Quantos meios esperam tornassem inteiros?...
~
Quantas vezes não viste a lua brilhar,
Por estar escondida atrás de nuvens de ilusão?
E o sol então? Que não se fez enxergar,
Escondido durante o dia, atrás da poluição...
~
Quantas flores deixaram de desabrochar?
Apanhadas antes do tempo, desamparadas na mão...
Foram flores, flores que não puderam florar,
Como palhaço sem circo, ou artista sem atuação...
~
Quantos vinhos deixamos de beber?
Taças quebradas, um bêbado que cai ao chão...
Quantos filmes deixamos de ver?
Quantos namoros foram acabados no portão?...
~
Quantos não foram capazes de ser ambivalentes?
Não teve coragem, a certeza de vencer...
Veneráveis, são os que se mostram inteligentes,
Mas felizes são os que também podem aprender...
~
Mas quantos também não aprenderam?
E sabemos que jovens morrem sem viver...
Mas também há muitos que sobreviveram
E enxergaram, o que os outros não puderam ver...
~
Quantos partiram num caminho sem retorno?
Mas outros também chegaram sem o caminho conhecer...
Juizes que arbitram na base do suborno,
Não julga aos outros, mas a alma está a vender...
~
Quantos já viveram na inércia profunda?
E quantos assim, não aprenderam a escrever...
O abc da vida, que as palavras difunda,
E o que eu escrevi, sei que muitos não irão ler...
~
E quantos jovens não mostram a cara limpa,
Jovens tão jovens, colocando-se a perder...
Embriagados, drogados, um ouro que não se garimpa,
Uma identidade que não pode se reconhecer...
Quantos não serão pais, e filhos não terão?
Quantos ainda vão viver, ou manter-se vivo apenas?
Alguns jogados na vida, muitos na prostituição...
Anjos que vendem suas asas, e suas penas...
~
Quem te espera nas encruzilhadas?
E quantos deixaram de chegar ao final...
Pois se muitos ficaram no meio desta estrada,
Não souberam escolher o caminho entre o bem e o mal...
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Comments
Re: E quantos deixaram de viver?
Uma história da vida!!!
:-)
Re: E quantos deixaram de viver?
Meu querido Marco,
Você se lembra o que eu havia lhe dito sobre este poema?
Bem, foram tantas coisas, que dentre elas eu apenas me lembro que este é sim um poema soberbo.
Beijinhos