O córrego

O córrego

Não sei o que dizer
E não dizer não basta
Mas dizer o que?
Dizer o tédio?
Dizer a rotina?
Dizer o choro?
Dizer o não amor?
Dizer o meio riso?
O talvez amor?
Não!
Tudo isso eu vivo
Não digo!
Quando digo
Foi água que não coube no rio
E fluiu
Para além de suas margens
E a água vai para algum lugar
Molhando as coisas
É assim que si diz as coisas
Quando elas trasbordam
O rio que possuo é um córrego estreito
Na mínima chuva transborda
Chove em mim todos os dias
E estou sempre a dizer...
Eu prefiro a chuva
Há dias quentes de sol
Que chova no meu córrego
Para que ele não se torne seco
E deixe de ser riozinho
E que ele transborde sempre
Molhando as coisas...

Álefe de Castro Dourado