"Desvindade"

“Desvindade”

Estou num altar
Meu traje fez de mim um Deus
E meus sentidos são agora divinos
E cabais...
E que do Olimpo
Convidasse-me Afrodite
Para provar do gozo
Que nenhum homem jamais provou.
E que na primeira taça do vinho
Que tu me ofereceste,
Despertasse-me Dionísio:
Hílare, excitante, vital.
E alheio a tua beleza,
Estático a minha,
Despertasse-me no espelho de teus olhos,
Narciso:
Vaidade, adamado.
Adamado gosto e perfume de tão nobre
Sangue de uvas.
Oh o quão belo sou:
Eu sou Apolo:
Orbitem!
Meu corpo tão humano travestido,
A provar do gozo divino
Deuses, semideus.
E que no alto de minha embriagues,
Restasse-me apenas a figura dum bêbado.
Desfigurasse-me as máscaras,
Despisse-me de armaduras,
E fosse tão simples tão Humano:
Tão distantes agora: Afrodite, Dionísio, Narciso, Apolo.
Corpo nu,
E olhos de ressaca,
Despido de qualquer traje divino.
 

Álefe de Castro Dourado