O SILÊNCIO NÃO MATA A PALAVRA …

O gesto não a cala,
abre-lhe no olhar uma estrada… dá-lhe voz.

O tempo não a envelhece,
o rodopio das horas não a embriaga… dá-lhe sentido.

A boca não a come… dela tem fome… fala com ela.

A língua não a estrangula… desata-lhe os nós da timidez,
estende-a pelo eco das distâncias… dá-lhe vez.

A escrita não a pára,
conduze-la pelos labirintos da tristeza, 
dá-lhe movimento até ao infinito… dá-lhe natureza.

O sentimento não a esconde,
responde através dela… expõe-na a dobrar.

O sol não a cega… alega-la noutras palavras,
fá-la brilhar cheia como uma lua soberba.

A escuridão não a apaga,
torna-la numa adaga que corta a noite… dá-lhe poesia.

A fantasia não a sonha,
funde-a à melodia dos olhos… torna-la real.

A multidão não a separa… mistura-la ao coro da vida,
tira-lhe as poeiras do nada.

A eternidade não a faz desaparecer,
dá-lhe acontecer… dá-lhe sabor a ser.

O vento não a leva… esculpe-la em talhes de razão,
semeia-la com saber nos jardins da alma.

O amor não a grita… transforma-la num beijo,
divide-la por dois.

A paixão não a queima… alimenta-la com fogo,
dá-lhe asas.