Gustave Flaubert- Madame Bovary

(…) a ousadia do seu desejo protestou contra o servilismo da sua conduta.

(…) sentimentos em que é maior a aflição da perda do que a alegria da posse.

A janela, na província, substitui os teatros e o passeio.

Os patões descompunham os criados, e estes batiam nos animais.

A palavra é uma laminadora que alonga sempre os sentimentos.

A mulher fora em tempos louca por ele; amara-o com mil e uma atitudes de servilismo, que ainda mais o afastaram dela.

(…) Depois, o orgulho dela revoltara-se. Então tornara-se calada, engolindo a raiva num estoicismo mudo que conservou até à morte.

Desejava que fosse um menino; havia de ser forte e moreno e chamar-se-ia Jorge; esta ideia de ter um filho varão era como que a desforra, em esperança, de todas as suas impotências passadas. Um homem, ao menos é livre; pode percorrer as paixões e os países, saltar obstáculos e gozar dos prazeres mais raros. Uma mulher anda continuamente rodeada de empecilhos. Inerte e ao mesmo tempo flexível, tem contra si as fraquezas da carne e as dependências da lei. A sua vontade, como o véu de um chapéu preso pelo cordão, flutua a todos os ventos; e há sempre algum desejo que arrasta e alguma conveniência que detém.

Um homem desembaraçado triunfa sempre na vida.

Cumpria a suas tarefa quotidiana como um cavalo de picadeiro que gira no mesmo lugar, com os olhos vendados, ignorando o que está a fazer.

O novo prazer da independência depressa lhe tornou a solidão mais suportável.

Tinha necessidade de tirar de tudo uma espécie de benefício pessoal e rejeitava como inútil o que quer que não constituísse para a satisfação imediata de um desejo do seu coração.

Transparecia essa brutalidade particular comunicada pelo domínio de coisas parcialmente fáceis, em que a força se exercia e a vaidade se diverte.

Era como uma poeira de ouro que lhe cobria, em toda a extensão. O estreito caminho da vida.

O futuro era um corredor todo escuro que tinha ao fundo uma porta bem fechada.

O amor, devia surgir de repente, com grande tumulto e fulgurações- tempestade dos céus que cai sobre a vida e a revolve, arranca as vontades como as folhas e arrebata para o abismo o coração inteiro.

Sentiu-se débil e abandonada, como penugem de um pássaro que volteia na tempestade.

Começava a sentir aquele abatimento que é provocado pela constante repetição da mesma vida, quando nenhum interesse a dirige e nenhuma esperança a sustém.

O seu traje tinha a incoerência das coisas comuns e rebuscadas, onde a pessoa vulgar crê geralmente entrever a revelação de uma existência excêntrica, as desordens do sentimento, as tiranias da arte e sempre um certo desprezo pelas convenções sociais.

Ela assemelhava-se a todas as amantes, e o encanto da novidade, pouco a pouco, caindo como a roupa que se despe, deixava a nu a eterna monotonia da paixão, que tem sempre as mesmas formas e a mesma linguagem.

Era preciso dar o desconto, pensava ele, aos discursos exagerados que escondem afeições medíocres, como se a plenitude da alma não transbordasse por vezes nas metáforas mais ocas, já que jamais alguém pôde dar a exacta medida das suas necessidades, ou das suas concepções, ou das suas dores, e que a palavra humana é como um caldeirão rachado em que se batem melodias para fazer dançar os ursos, quando se pretendia era enternecer as estrelas.

O teatro servia para criticar os preconceitos e, sob o disfarce do divertimento, ensinar a virtude.

Não me posso sentir livre se souber que o menor atraso te perturba dessa maneira.

Denegrir aqueles que amamos sempre nos afasta deles um pouco.

(…) cada sorriso escondia um bocejo de enfado, cada alegria uma maldição, cada prazer o fastio, e os melhores beijos apenas deixam nos lábios um irrealizável desejo de mais exaltada volúpia.

(…) sorria com a cabeça pendida, as narinas dilatadas e parecia enfim, perdido numa dessas felicidades completas, que sem dúvida só se conseguem nas ocupações medíocres, que divertem a inteligência com dificuldades fáceis, saciando-a com uma realização para além da qual nada há a sonhar.

Um pedido pecuniário é a mais fria e devastadora de todas as tempestades que podem desabar sobre o amor.

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Depois da morte de alguém fica sempre uma espécie de assombro, por ser tão difícil de compreender esse aparecimento do nada e de aceitar a sua presença.

Sentiu-se a sufocar, como um adolescente, sob os vagos eflúvios amorosos que lhe dilatavam o coração desgostoso.

Depois da morte de alguém fica sempre uma espécie de assombro, por ser tão difícil compreender

Procuro nos búzios e no horóscopo o resto da minha dignidade. Tento ser mais céptica, mais dura, mas sou totalmente tendenciosa quando alguma coisa diz que eu posso ser feliz. É sempre mais fácil culpar o auto-sabotamento com signos do zodíaco ou algo que se preze, do que entender que você, independente de onde Marte esteja neste exacto momento, gosta de arrancar as próprias penas apenas para ver aonde dói.
Gosta de se cutucar para ver aonde sangra, aonde incomoda, que parte do seu corpo sente mais falta dele, em que momento do dia você perde a razão, fica sem ar, o porquê grita tanto internamente ao ponto que se deita exausta de tanta coisa que é sua, mas que você não sabe lidar, e por isso é fácil apelar para o impalpável e para todas as superstições existentes para que tirem a culpa que você carrega de querer tanto ser como os outros, mas não é.
O amor que tanto se proclama, dessa busca e espera infindável, "que chegue e será bem-vindo, que será esperado" que desaparece em alguns meses, que se sobrepõe na esquina por um outro qualquer, por essa falta, esse buraco no estômago, essa fome de se sentir amado, de se sentir querido, de se sentir seguro, quando amor é nada além da sensação de estar caindo e não saber onde se segurar. E por isso eu culpo toda e qualquer manifestação esotérica, pelo meu amor volúvel que vai para qualquer pessoa que me desperte algo que valha terminar o dia, e sendo assim é mais fácil despejar em alguma coisa impalpável a minha incapacibilidade de ser como o resto das pessoas.
Porque eu nunca tive motivos para acreditar em nada que dure para sempre. Porque eu sempre fui tocada pelas mais diferentes formas de vida e por qualquer frase um pouco mais inteligente, porque dói entender que a posição da lua não interfere no quanto eu morro um pouco todos os dias. Porque eu acredito em tudo e isso de não descartar nada, faz-me voltar para casa depois de me apaixonar a cada esquina, e querer uma cama só. Eu magoo-me pra saber onde dói, mas hoje sei exatamente que parte de mim sente mais falta dele. Tudo.

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Miércoles, Febrero 20, 2013 - 21:36

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:)

Bx!

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GOSTEI IMENSO DESTE TEXTO

Nem sempre somos atraídos para a leitura dum texto longo se, logo de início, não o sentirmos. Não foi isso o que aconteceu comigo ao começar a ler este. Fiquei presa a cada período, saboreando o sentido de cada palavra, de cada expressão. Parabéns!

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