amor e acordes de tango

De olhos fechados, deixa-se conduzir ao amor.
Ele observa-a, velado, enquanto a ve afastar-se .
De que lhe importa tudo o resto se a sua sombra se projectara exacta e obliqua sobre o seu corpo.
Beija-o com os seus labios-sombra.
Acaricia-o com os seus dedos avidos, maos tremulas, de cera.
Ninguem senao eles compreende a razao desse desejo inegavel e imortal.
Tudo esta intacto.
Nao ha horas para partir.
Para chegar.
Para o amor.
Apenas a urgencia ultima e vital de mutuamente pertencer ao outro, como acto de renuncia altrustica e unificacao final e completa dos amantes.
Veste-se do tango que lhe navega na pele e o depoe a seus pes, o unico ritmo em que o corpo se move despojado de si, entregue ao outro.
O combate feroz pela posse, o olhar ebrio, surreal.
Labios crispados, maos que se desprendem e se fecham em torno do outro, acompanhando a correnteza do sangue e a sinuosidade dos contornos de um corpo revisitado como se da primeira vez se tratasse.
O ar absorvido em golfadas no extremo da vida como quem lanca o espinho para entao tratar as feridas.
Depois, o regresso.
Renascer do corpo daquele que se tornou reciprocamente seu, dividindo o sangue num so pulsar, num ultimo exercicio de prazer consentido.
O acorde final de um tango.

Morgana R : ay