Bailado entre vazios

O meu vazio que traz e prega à alma um caos, recolhe-me todas as vontades e dá a mão à inércia. Deixo-me entregar. Quero-me entregar. Viver no vazio é deixar-me cair no sonho. E sonho em ti. Sonho em nós. Nós só em sonhos.

Nada me preenche.
nada me enche.
nada me intumesce.
tudo me foge ao senso.
tudo me interpela a pouca lógica que faço restar em mim.
tudo de ti me reitera a toda a hora e a todo o momento.
um sopro traz-me o teu rosto de volta à algibeira dos segredos. nada mais me resta. incrível que é: ter apenas a ilusão de te ter tido. só me resta a ilusória traição da memória dos momentos que vivemos. Entendes? só me resta o que não vivemos; mas, o crer e o querer viciam-me as lembranças retiradas à pinça da memória. Entendes? como me irrita o que sobrou de ti em mim, porque me deixou muito pouco espaço para mim. tanto que por vezes não sei o que quero de ti nem de mim. como aprecio a tua tristeza que vive em mim, quando pensas em mim, por me teres em vontades, mas não me teres em matéria. aprecio o teu sorriso que vive em mim, quando tu me escutas ao longe, de tão longe, bem de longe. Mas sei-o!, que quando pensas em mim, tomas-me por quem eu sou em mim. pouco sentes o que há de mim em ti, porque muito pouco tens de mim em ti. muito pouco há de sentires. sei-o!, que quando falas para mim, falas para mim. como queria que quando falasses para mim, falasses para dentro de ti - eu existiria em ti.

nada me preenche.
nada me enche.
nada me intumesce.
tudo me foge ao senso.
tudo me interpela a pouca lógica que faço restar em mim.
tudo de ti me reitera a toda a hora e a todo o momento.

 

Elsa Menoita

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Domingo, Mayo 15, 2011 - 18:30

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