À espera

À espera…

Não sei viver sem ti.
Não sei, nada tem valor.
O tempo pára sem ti
ou sou eu que fico parada no tempo?

Os minutos rolam,
vejo as horas a passar
num tempo que não se apieda
que eu parada as olhe
e nada faça para as apanhar!

Pensamento bloqueado
numa imagem, numa palavra,
na razão, causa e efeito
dum sentimento sem tamanho
que arde dentro do peito…

Inferno de chamas eternas
que ardem e não consomem
porque um amor verdadeiro,
se faz de achas,
que se renovam o tempo inteiro!

Ingredientes perfeitos,
mistura cristalizada
a pureza, a loucura,
mais a devoção e a saudade,
o ciúme quanto baste,
a labareda ateada!

E os minutos sempre a rolar
e as horas a passar
numa espera sem esperança
duma migalha que surja,
a migalha dum olhar,
dum gesto, duma palavra
que seja água para o fogo apagar.

E assim se passam os dias
e os meses viram anos
e a espera não desespera.
Bom seria que desesperasse,
que ao limite levasse
e o inferno não fosse eterno
e se acabasse!

Mas não, não desespera
continua da migalha à espera.
São as achas do fogo que não fenece
e que tornam a dor tamanha que mais parece,
que morri e afinal o Inferno existe!