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O pastor

O pastor


Samarra apertada e botas nos pés
Pela gélida inverneira,
Ou camiseta de linho alvo e tamancos
Pela queimante soalheira,
Percorria ele diariamente de lés-a-lés
Aquele já de cor e salteado monte,
Não sem antes passar por certa fonte,
Beber daquela água que acreditava
Os seus corpo e alma lavava.


Era ele um vulgar pastor
No meio de ovelhas, cabras e um cão,
Por quem ninguém dava nada,
Mas que um coração albergava
Repleto de nostalgia e solidão
E necessitado de tempo para reflexão.
Intervalo para a miséria e a dor
Do espírito cansado seu dono e senhor.


E era vê-lo no chão deitado
A olhar o infinito do céu!
Ninguém percebia a razão
De se quedar tanto tempo
A olhar o firmamento.
Achavam-no até molengão!


Nessas horas umas vezes sentia
O peito apertado com saudades do quê, não sabia.
Outras era uma consumptiva dor que batia,
A mágoa de não saber ler,
A de não poder procurar o que desejava saber
Sobre animais, plantas, o ar, a água, a natureza,
Os pontos luminosos da abóbada celeste
Onde observava tanta beleza!


Meio desajeitado começou a mirar
As poucas moçoilas do lugar
Pois que já era homem e pretendia casar.


Uma até que engraçada, apercebeu-se.
Farejou no ar a sua intenção
E achando-o bom partido, resolveu-se
Quando ele à fala chegou a dar-lhe a mão.


A jovem interesseira depressa se cansou
Do pastor apagado
Que a contar as estrelas vivia parado.
E o abandonou!


E o pastor envelheceu
Consumido pela saudade não da mulher
Que bem depressa esqueceu.
Mas de quem não sabia,
Melhor dizendo, lembrar não conseguia.

 

E um dia cansado, desprotegido,
No catre de solteiro deitado,
Pela morte foi surpreendido!
E ele viu-se através do firmamento arrebatado.
Não estava mesmo nada enganado!
Quanta beleza, Santo Deus!


Viu estrelas e planetas,
Cruzou-se com cometas
E achou-se ao sol chegado.
Pensou tal porque se viu
Em muita luz mergulhado!


A recebê-lo tantos amigos de que não lembrara mais!
E também os seus pais!
E ainda alguém importante demais!
Aquele aperto que tantas vezes o levara a querer a morte!
E o seu coração batia, batia, cada vez mais forte!


A! Como ele agora compreendia
O porquê daquela saudade e de tanta nostalgia!
Só não atinava como fora possível esquecer
Aquele rosto tão amado
Que para de novo ser lembrado
Lhe fora preciso morrer!

 

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sábado, julho 16, 2011 - 20:20

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Mª da Graça Moura

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