ENCAMINHA-ME DENTRO DE TI

Deita-te sobre mim, dorme, sonha, salta,

pára.

Não digas nada, beija-me,
lambuza-me de loucura,

embrulha-me em ti.

Olha-me nos olhos, ateia-me de ti,
encaminha-me dentro de ti,

faz amor comigo.

Agarra-me, rebenta as minhas flores em ti,

faz-me teu,

completa-me.

Grita-me o avermelhar do teu sentimento.

Despedaça o silêncio, derrete o escuro,
avassala-me com as tuas volúpias de mulher.

Ama-me, faz do relógio uma turbina de avião,
que a luz seja a nossa velocidade,

que a noite não tenha tarde.

Deleita-te em mim, que o teu corpo
me fale amante ao corpo com dialectos só nossos,

pecadores.

Que a tua boca me diga beijos quentes.

Que as tuas mãos sejam o gesto eterno das minhas mãos
para que as minhas sinas te desenhem nas pedras

da imortalidade.

Diz-me tudo,

o vento do teu fogo na minha fogueira de amor.

A erupção do teu vulcão na minha montanha de poeta

erecta ao céu.

O sol da paixão
sobre um colchão de rosas

que as palavras enchem de perfumes

a dois.

Eu e tu,

a visão da Primavera nos nossos olhos,
a pele dos nossos corpos

no Inverno,
almas gémeas

num Outono rejuvenescedor,

o Verão em nós.

Dá-me a vida,
a cor da tua vida,
o sabor dos teus lábios,

o mar da tua primazia feminina.

Aprisiona-me em ti com liberdade,

com querer mais,

com infinito.