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A fábula da bela adormecida e da cobra...
O tempo é uma víbora de cauda na boca,
circular, venenosa, imprevisível...
Eu sempre fui o centro com vista periférica.
que assiste ao desenrolar dos dias,
ouvindo o rastejar em espiral do mundo,
gritando um apelo mudo a quem passa, mas nem pára...
Todos os castigos trazem um pecado antigo,
o meu agarrou-se às minhas pernas,
morde-as, beija-as, arranha-as numa caricia prepotente...
Um dia tomei uma decisão, mas as decisões não se deixam tomar
sem um namoro prévio...
Defendem a castidade cínica de uma forma mordaz,
como quem faz crochet com os dentes...
Se existe um Deus maior que eu,
(que acredito que seja a força bela de todas as coisas
e o principio onde o Amor nasceu),
então, este medo punitivo não faria sentido algum...
Mas a crença é uma pertença volúvel
e abandona-me muitas vezes
porque gosta de dormir em outras camas...
Já não me chamas de Amor, pois não?
O verão do nosso contentamento nunca chegou
e as árvores não resistiram à dor da geada...
Será que tudo se repete?
Promete que pelo menos existiu
e numa madrugada de tempo frio,
soube derreter a geada e coube nos nossos sonhos...
Promete que metemos as mãos juntas por baixo
para apararmos as gotas todas que escorriam dos nossos olhos,
enquanto nos olhávamos e trespassávamos de compreensão...
Não sei mais nada amor, já nem te escrevo em letra crescida,
estou perdida, de mim e de tudo...
Há uma mágoa que me atravessa como água,
preenchendo os espaços todos...
Não quero passar por aquilo outra vez,
mas talvez o sofrimento se queira passear por mim...
Pensei que a tua mão me esticasse o alcance
dos braços, mas não...
O tempo é uma víbora de cauda na boca,
que me olha de relance, num tom desafia(dor)...
E eu louca apenas tremo e temo deixar-me morder
e adormecer sem beijo de Amor para me acordar,
desta vez,
quando passar...
Inês Dunas
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Poesia :
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Comentários
Olá Inês! Fantástico!
Olá Inês!
Fantástico! Que poema!!!!
Que bom voltar a ler-te. Como sempre. está espectacular.
(...)
Defendem a castidade cínica de uma forma mordaz,
como quem faz crochet com os dentes...
(...)
O tempo é uma víbora de cauda na boca,
que me olha de relance, num tom desafia(dor)...
E eu louca apenas tremo e temo deixar-me morder
e adormecer sem beijo de Amor para me acordar,
desta vez,
quando passar...
Mais palavras para quÊ?
beijinhos
rainbowsky
........
Sem palavras Inês......Boquiaberto!!!
Perfeito!!!!!
O tempo brinca de ser tempo
O tempo brinca de ser tempo e nos envolve em sua teia ciclica
de dias lindos e de dias que são nadas ...
O mais importante é não deixar o tempo comandar o relógio da vida
e sim ser capaz de ser senhor do próprio tempo....
Que o tempo seja capaz de se perder enquanto tu encontras
a felicidade deste amor ,talvez, gasto ....
Um texto muito forte e reflexivo me vejo em tua fábula ....
Sempre é bom te ler !!!!
Um beijo
Susan
A Fábula
Belíssma fábula,Inês!
O tempo é essa víbora com cauda na boca que está sempre girando ao nosso redor,sem que possamos evitar que ela possa nos morder.
Beijo
A fábula da bela adormecida e da cobra...
Lindo e maravilhoso texto, gostei muito!
Destaco os versos finais abaixo:
O tempo é uma víbora de cauda na boca,
que me olha de relance, num tom desafia(dor)...
E eu louca apenas tremo e temo deixar-me morder
e adormecer sem beijo de Amor para me acordar,
desta vez,
quando passar...
Meus parabéns,
MarneDulinski