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Livros Geniais para Mentes Fantásticas

 

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José Saramago- Caim

Em primeiro lugar, mesmo a inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em compreender que estar informado sempre será preferível a desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a uma condenação eterna num inferno que então estaria por inventar. Em segundo lugar, brada aos céus a imprevidência do Senhor, que se realmente não queria que lhe colhessem do tal fruto, remédio fácil teria, bastava não ter plantado a árvore, ou ir pô-la noutro sitio, ou rodeá-la por uma cerca de arame farpado.E em terceiro lugar, não foi por desobedecer à ordem de Deus que Adão e Eva descobriram que andavam nus. Nuzinhos em pelota estreme, já eles andavam quando iam para a cama, e se o Senhor nunca havia reparado em tão evidente falta de pudor, a culpa era da sua cegueira de progenitor, a tal, pelos vistos incurável, que nos impede de ver que os nossos filhos, no fim de contas, são tão bons, ou tão maus como os demais.

Bem triste há-de ser a gente sem outra finalidade na vida que a de fazer filhos sem saber porquê nem para quê. Para continuar a espécie, dizem aqueles que crêem num objectivo final, numa razão última, embora não tenham nenhuma ideia sobre quais sejam e que nunca se perguntaram em nome de quê terá a espécie de continuar como se fosse ela a única e derradeira esperança do universo.

Pode ser que a minha verdade seja para ti mentira. Pode ser, sim, a dúvida é o privilégio de quem viveu muito.

Nunca não é o contrário de tarde, o contrário de tarde é demasiado tarde.

O caminho do engano nasce estreito, mas sempre encontrará quem esteja disposto a alargá-lo.

Se o senhor não se fia nas pessoas que crêem nele, então não vejo porque tenham essas pessoas de fiar-se no Senhor.

O erro é crer que a culpa terá de ser entendida da mesma maneira por Deus e pelos Homens.

É curioso que as pessoas falem tão ligeiramente do futuro, como se o tivessem na mão, como se estivesse em seu poder afastá-lo ou aproximá-lo de acordo com as conveniências e as necessidades de cada momento.

Vê-se que não conheces as mulheres, são capazes de tudo, do melhor e do pior se lhes dá para isso, são muito senhoras de desprezar uma coroa em troca de irem lavar ao rio a túnica do amante ou atropelarem tudo e todos para chegarem a sentar-se num trono.

A carne é supinamente fraca, e não tanto por culpa, pois o espírito, cujo dever, em princípio, seria levantar uma barreira contra todas as tentações, é sempre o primeiro a ceder, a içar  a bandeira branca da rendição.

A ele iria continuar unida pela sublime memória do corpo, pela recordação inapagável das fulgurantes horas que havia passado com ele, isto uma mulher nunca esquece, não como os homens, a quem tudo lhe escorre pela pele.

A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com Deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.

António Lobo Antunes- O Auto dos Danados

Vende borrões nas galerias de arte de Lisboa, e cujo nome descubro de quando em quando nos jornais, com elogios hiperbólicos assinados por compinchas do Bairro Alto que o elevam aos píncaros do génio, como se fosse capaz de melhor do que três ou quatro riscos ao acaso, perante os quais entendidos de barba se extasiam.

Os moucos nunca compreendem o que a gente lhes diz, ou se o compreendem, compreendem mal e ofendem-se.

Lisboa aparenta-se a um mendigo ao sol, com os piolhos dos pardais a escarafuncharem livremente as farripas das árvores.

… e te deposito na vagina dois centímetros cúbicos de paixão

O Paraíso é uma espécie de clinica para anjos deprimidos, e os bigodes dos
apóstolos o mata-borrões das suas lágrimas.

A procissão coxeava nas varizes das ruas tortas da vila, atacada por pandeiretas, clarinetes e trombones, numa pompa miserável e trágica.

… cheguei ao Porto de comboio, uma cidade maior do que Évora mas sem sol, castanha e preta como um dente estragado, onde chovia interminavelmente a água melancólica de um Outono antigo, um desses Novembros em segunda mão que se compram barato no ferro-velho.

… porque todos se consideravam com direito a nada num país onde nada é o
que geralmente se possui e coisa nenhuma o que os defuntos nos deixam ao deixar-nos além de dívidas e uma saudade zangada em relação ao lugar vago na mesa e ao riso do retrato, o qual vai perdendo substância com a agonia da memória.  

Paciência é o género de palavra que irrita até às tripas qualquer infeliz com vinte e três anos de casado

Que falta o ódio faz, para nos sentirmos saudáveis. Acharmo-nos em harmonia com o mundo é uma infeção mortal.

José Cardoso Pires- A República dos Corvos

Está com uma diarreia de língua que não há milagre que a estanque.

Cada homem transporta dentro de si o seu bestiário privado.

O Afecto e o Amor ocupam muitas vezes lugares que o dever não consente.

Deus criou o cão que nunca mais o largou e para se ver livre dele criou então o Homem.

As pessoas ainda estão longe de avaliar a importância das palavras na construção da ordem e da consciência.

Enterro de cão, gato não chora.

O amor dos pais só dá meças ao perdão.

Padres, cisco dos céus. Caiam em chuva peneirada sobre os campos à desgraça e em menos de um ámen já eram um extenso prado de hastes negras com as coroas-corolas das cabeleiras a dar a dar.

Fome para eles era o pão de cada dia

Faziam como o mexilhão: Pé na rocha e força contra a maré.

…palavreado para tapar o olho cego. (Ele próprio limpava o rabo aos jornais).

Perder a tempo, é meia vitória ganha.

Burro que aprende línguas, esquece o coice e perde o dono.

O surdo que muito canta acredita que tem boa voz.

Sempre que a mentira bate à porta de um infeliz traz uma enfiada de desgraças na cauda.

Atirava-se ao discurso com aberturas de largos cumprimentos, mas ao entrar no propriamente da matéria punha-se com sustenidos, muitos sins e mais que também e retirava-se às arrecuas, todo vénias.

Fingir de cego é virtude de quem vê de mais.

A presa quando é de respeito mete muitas voltas pelo meio.

… criou então os espelhos da formusura, maldita hora!
     Colocou-os, não em barracões de gargalhadas, como os outros…           
     Foi mal compreendido, para seu grande espanto. Cuspido a seguir; apedrejado depois; e só mais tarde percebeu que aqueles espelhos eram um insulto à natureza defeituosa dos visitantes.
      Éramos felizes, Satanás, gritou-lhe um dos clientes mais fiéis dos espelhos grotescos. Éramos felizes e escorreitos quando nos punhas aquelas carantonhas à nossa frente e agora atiras- nos com a imagem do impossível. Some-te, Satanás dos olhos de anjo!

Não há nada como o tempo para mudar a cor à vida.

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sexta-feira, outubro 5, 2012 - 11:43

Poesia :

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topeneda

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Comentários

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Blasfêmias minhas

Caim... Livro que inspirou-me ao começar escrever o meu poema "Adão e Eva" da forma como escrevi, e pretendo continuar escrevendo. Grande livro, ainda que eu tenha lido apenas o princípio...

Parabéns pelo blog, Meu Bom!
Estarei sempre de tocaia por aqui... Mesmo que não percebas a minha presença: como um deus bom e justo hehehehe

Um abraço! E não deixe nunca de nos agraciar com a tua palavra ;D

5 de Outubro de 2012 11:12

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:P

Eita! que os textinhos dele estão dando cria...

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