Os Contos de Joana Morta - O Acrodar

Com forte cheiro a bafio,
Acordava Joana Morta no seu quarto.
O ar éra asquerosamente frio.
A sua essêcia no seu espaço.

Sempre com um copo baço de água,
Enraizado na sua mesa de cabeceira.
Afogava joana a sua mágoa,
De nunca ter apanhado uma borracheira.

Levantava-se do colchão no chão plantado,
Que do tempo se teria esquecido.
Que a ele próprio se sente enojado,
Que por ele próprio teria morrido.

Levantava-se a morta ainda nua,
Em direcção à sua janela quebrada.
Pelos estilhaços pretendia ver a rua.
Mas com tanto estilhaço, não via nada.

Virava costas à janela,
E com a mão áspera coçava as nalgas.
Um ar mórbido passava por ela,
Com a essência de milhares de almas!

As almas que por ela se tinham cruzado,
E que a ela viraram a cara.
Era um ar já respirado,
Pelas vidas que ela matára.

Inspirava esta essência,
Revitalizando-lhe a sua cor.
Descolorando-se na sua demência,
Não senti pena, não sentia dor...