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Retrato do Português do Séc. XXI: Essa Rameira Paciente
Dêem-me um número de lugar de camioneta,
Para dormir eventualmente num quarto, no chão,
Moro em latrinas públicas e do pódio um proxeneta
Confere-me desmedidas regalias como côdeas de pão,
Profiro os Descobrimentos como se ontem tivessem sido,
Erra esta nau esperando a sorte que o horizonte alcança,
Contudo se perde num país meio afundado, meio perdido,
Sempre do mesmo estamos fartos mas cansa-nos a mudança,
Egrégio lar por escumalha governado em contos de fadas,
Venho de vários caminhos porém de futuro sou aldrabado,
O esplendor levam deixando-nos um invólucro com mil nadas,
Nação valente quando te libertarás deste cerco, deste Fado?
Vamos engolindo merda como se fosse um sazonado doce,
Coloco a mão na algibeira e em meio bolso sinto-o furado,
Ao invés do amanhã celebramos continuamente o passado,
E vamos vivendo do silêncio nutrido por esta esperança vã,
Esfomeados por nossa própria fome nesta parada precoce,
De cinto apertado e calças na mão aguardámos a manhã,
Espreitando o lá fora e sua luz como se o amanhecer fosse,
Sim, sou um português de gema, o sucessor de mil gerações,
Castrado à nascença, nobre entre as brumas mas... sem os colhões.
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