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Notícia quente
Os mendigos do sul do Brasil conhecem bem o significado de ser mendigo neste país. Os mendigos do norte, do nordeste e demais regiões não o são menos, mas certamente não sofrem com a mesma intensidade com a qual padecem os miseráveis sulistas.
Já devia ter passado das três horas da madrugada de um domingo nervoso. Eu caminhava com passos distraídos entregando minhas faces ao terrível vento sul que solapava a avenida que beira o mar da costa oeste da belíssima ilha de Florianópolis, outrora chamada de Ilha de Santa Catarina, nome muito mais nobre e condizente com sua beleza do que com a figura estúpida do Marechal Floriano Peixoto. Quisessem elogiá-lo, chamassem-na antes de Ilha Peixota.
A noite não havia sido das melhores. Encontrava-me muito longe da casa onde eu estava hospedado, a casa de um amigo, no centro da cidade, e havia perdido o último ônibus que me levaria até aquele teto, onde eu poderia me abrigar do vento fustigante do rigoroso inverno do sul do Brasil. Isso não me incomodava. Eram apenas uns dezesseis quilômetros de caminhada. Pouco antes do amanhecer eu deveria estar chegando em sua casa. Talvez meu amigo não acordasse e eu teria de passar mais algumas horas de frio. Mas isso, definitivamente, não me incomodava. Que tipo de problema poderia incomodar um homem que há poucas horas se via desabando de seu pedestal de virilidade rumo ao profundo abismo de uma brochada homérica diante de uma dama de cabelos dourados e ancas largas capaz de tornar teso até mesmo o mastro de Matusalém?
Enquanto me esforçava para abrir caminho contra a ventania, procurando manter o corpo retesado, os braços cruzados por cima de um casaco de lã do caralho que estava com o fecho quebrado, escutando meus próprios passos na calçada de pedras portuguesas, pensava nas praias do nordeste. Em toda aquela gente bebendo cerveja gelada, sem camisa, descalça na areia da praia, em pleno inverno... Oras eles não sabem o que é inverno. Inverno é esta noite de merda onde não se encontra nenhum bar onde se possa beber uma cerveja e mesmo que se encontrasse não seria possível beber cerveja por causa do maldito frio!
Em meio a esses devaneios de revolta pueril, atravessei a rua para pegar um atalho cortando uma praça onde as árvores lutavam para não amanhecerem pela metade.
Quando o vento sul dá o ar de sua graça, até os cães de rua procuram se amontoar uns sobre os outros, constituindo pilhas de pêlos onde se pode encontrar até mais de uma dúzia de rabos de diferentes cores. Os bancos estavam cheios de mendigos. Os que não haviam encontrado espaço nos bancos procuravam imitar os companheiros peludos, amontoando-se sobre a grama molhada. Pilhas sem rabos... Pilhas de barbas... Ao me aproximar de um dos desgraçados, não pude deixar de me condoer ao reparar em como o coitado tremia. Seu pobre corpo definhado fazia tremer mais que o vento o jornal com o qual tentava em vão se cobrir.
Na manchete, lia-se, em letras garrafais: “Governo promete que neste inverno nenhum mendigo passará frio”.
Eles não mentiam. Com a tiragem daquele dia dava para cobrir até os cães.
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