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O Humilde Colunista
Caro Sr. Diretor:
Parabéns! O Sr. acaba de ser contemplado com uma carta escrita pelo melhor colunista do mundo!
Quem me classificou como tal? Ora, eu mesmo! E que outra opinião interessaria senão a minha?
É de alguém assim que um jornal precisa, o Sr. não acha? Alguém determinado, de pulso firme, autoconfiante, arrojado, inteligente, audaz, perspicaz, e outros “az” mais... Mas o meu forte mesmo é esta minha modéstia que, inquestionavelmente, faz com que as pessoas se apaixonem por mim, chegando até mesmo a amar mais a mim do que a si mesmas! O Sr. mesmo, que ainda nem teve o prazer de me conhecer pessoalmente, já está deveras encantado com minhas palavras! Vamos, confesse!
Como eu ia dizendo, é de alguém assim que um jornal precisa. O Sr. deve concordar que seria um disparate acreditar que alguém possa ser insensato o suficiente para não reconhecer que seria uma grande perda para qualquer jornal do mundo desprezar um talento nato como o que possuo. Ora, um jornal só pode ser chamado de jornal se tiver um colunista como eu! O Sr. consegue imaginar um jornal sem mim? Claro que consegue! Um jornal sem mim só existe na imaginação!
E dizer que durante todo esse tempo o Sr. esteve alheio a este gênio que aqui lhe escreve... Não, não! Não precisa se retratar. Ficaria até ridículo uma pessoa importante como o Sr. se retratar perante uma pessoa extremamente humilde como eu. Aliás, eu é que devo me retratar perante o Sr., por ter ficado durante tanto tempo sem lhe escrever. Estive pensando... Acho que uma boa maneira de pedir desculpas seria oferecer meus préstimos a este periódico, dando-lhe a felicidade e o prazer de trabalhar junto desta pessoa sensacional que sou eu. Imagine a alegria em que se transformaria esse jornal somente por desfrutar da aura de minha presença!
Calma, calma! Sei que é muita emoção para o Sr., mas não precisa ficar tão eufórico. Olha o coração! Não gostaria de lhe perder num momento tão digno de apreço como este. Espero eu que o Sr. ainda possa viver por muitos e muitos anos, sentindo-se lisonjeado com o ar de minha graça.
Portanto, não nos apressemos. Darei o tempo necessário ao Sr. para que organize todos os pormenores de minha recepção. Mas já vou logo lhe avisando! Não quero nada suntuoso. Aceito de coração uma simples passagem de 1ª classe, e concordo plenamente em ficar em um hotel mais barato; não precisa ser um seis estrelas, me contento com um singelo cinco estrelas, sou um sujeito simples. Tenho até melhor sugestão. Faço questão de lhe presentear com o privilégio de me hospedar em sua própria residência e a honra de compartilhar de minha adorável companhia em seus almoços e jantares. A propósito, abrindo um parêntese desinteressado aqui, gostaria de deixar claro que não possuo um gosto muito refinado, portanto não precisa se preocupar em me agradar com finezas. Tenho gostos pequenos. Um bom Cohyba robusto, um Adriano Ramos (safra 75) em companhia de belas damas de curvas generosas, um passeio de iate, enfim, coisas simples...
Quanto ao salário, nem tocarei neste assunto! Sei que o Sr. é um homem de juízo, cuja probidade é indiscutível e, portanto, jamais me concederia qualquer outra coisa que não um dos salários mais altos do jornal. Sendo assim, não falemos mais nisso.
Olhe... Sei que, em seu íntimo, o Sr. gostaria muito que esta carta fosse um livro, pois quem bebe da preciosa sabedoria de minhas palavras sempre deseja obter mais, mas peço-lhe desculpas, meu tempo ocioso é muito precioso e preciso encerrar por aqui.
Por falar em tempo precioso, espero que o Sr. entre em contato o quanto antes, pois não gosto de esperar. Sempre que espero demais fico nervoso e, quando fico nervoso, acabo extravasando toda a energia concentrada em mim – energia esta que só pode ser comparada aos deuses do Olimpo – em minhas mulheres (que não são poucas), exigindo delas noites de amor intermináveis, que causariam inveja até mesmo em Don Juan. Como sei que o Sr. é um cavalheiro, amante das mulheres, sei que não permitirá que eu as maltrate, exigindo tanto das coitadinhas...
Abraços cordiais deste seu humilde servo que procura um felizardo jornal que venha a ter a nobre honra de desfrutar da inigualável sabedoria de seus pensamentos.
Maurício Decker.
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