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Por Ti Seguirei... (16º episódio)

(continuação de http://galgacourelas.blogs.sapo.pt/48623.html

Em risada geral, desmobilizaram todos da circunstância enfeitiçada para se entregaram às tarefas que careciam de atenção. Os homens começaram a organizar-se em grupos, de acordo com a afinidade de tribos e local de origem. Eram sobretudo provenientes de clãs Calaicos, Tamagani, Brácaros, Lusitanos, Vetões, Zoelas, Turdulos e Astures. A maioria desejava regressar ao seu povoado e recomeçar a vida civil. Porém o espírito aguerrido e indomável de todos eles instigava-os para as fileiras de Aníbal e a guerra aos Romanos.
Os primeiros contactos de Aníbal com os iberos não decorreram de modo fácil ou pacífico. Os Cartagineses chegaram com ambições de conquista e domínio do território. Pronunciaram-se violentamente sobre alguns dos povos, sobretudo sobre os da meseta central, que resistiram afincadamente. Se tomassem o centro da península e o juntassem à já subjugada orla litoral do Sul, seriam soberanos de toda aquela magnífica e rica terra. Quem sofreu mais com as aspirações púnicas foram os Arevacos, originando o seu enorme ódio e a sua tomada de posição pró romana.
Aníbal percebeu que os iberos eram indomáveis. Se fossem subjugados pela força, seriam sempre como grossos braços de espinhos a rodearem a cabeça dos vencedores. O melhor era tê-los por amigos, promover as trocas comerciais, partilhar conhecimentos dos vários ofícios e artes e, se possível, cativá-los como aliados. Dessa forma, paulatinamente, os Púnicos, um pouco por toda a Península, passaram a ser recebidos com tolerância e crescente amizade. Tanto mais que outro potencial opressor também já começava a mostrar as suas garras e ganância: os Romanos.
Servia assim a Ibéria de tabuleiro de jogo, onde Púnicos e Romanos desenvolviam as suas estratégias de expansão territorial e alargamento de área de influência, com o fim último da exploração dos recursos naturais e demográficos. Os Celtas sabiam que eram joguetes das potências militares e comerciais. A solução era tomar o partido do contentor menos nocivo para os seus povos. Ficar quieto e neutro nessa luta de Titãs era ter ambos por inimigos. Aníbal tinha algo que pelo menos lhes inspirava alguma confiança: era frontal e directo. De certa forma, honesto quanto às suas intenções. Os Romanos, por seu lado, já haviam demonstrado que eram sinuosos, calculistas, dissimulados, sempre na expectativa de dividir para reinar. Não se podiam fiar nas suas palavras e alianças.
Esta necessidade de alinhamento com as circunstâncias também só ocorria porque os povos da Ibéria não eram capazes de se congregarem em união contra invasores externos. As rivalidades eram tremendas entre as diferentes facções e clãs. Estes ódios internos eram bem conhecidos e explorados por aqueles que pretendiam controlar o território.
Todavia, esta luta de pólos tivera o condão de adormecer as disputas intestinas por alguns momentos, e aquela centena e meia de celtas estava reunida por vontade comum. Indivíduos que, noutra situação, facilmente se esventrariam uns aos outros. Na presente conjuntura, por força do destino, conseguiam reunir-se, comer em conjunto, partilhar a sua vida e os seus pensamentos, colaborar nas tarefas comuns. Alguns até chegam ao extremo de se divertirem no riacho próximo, aproveitando para, ao fim de tanto tempo, pôr em ordem a higiene do corpo e da roupa: as encardidas bragas, túnicas de lã e linho, mantos de tecido e pele, as grossas loricas e as cotas de couro.
Assim passaram o dia. Só pela tardinha é que Tongídio e Rubínia voltaram a aparecer. E, ainda mais tarde, regressaram os tão aguardados esculcas. Tinham cavalgado horas a fio e desfaleciam já em cima dos dorsos dos igualmente esgotados equídeos. Deixaram-nos retemperar forças antes de ouvirem o que tinham a relatar.
Alépio chamou dois representantes de cada tribo para escutarem as novidades e discutirem o futuro. As notícias não eram nada favoráveis. Antes pelo contrário, eram alarmantes. Virian, um Calaico, foi o porta-voz dos enviados.
- “Chegamos ao destino no final da manhã. O fumo era imenso e ainda se viam áreas a arder, dentro e fora do campo romano. Parte da paliçada de madeira a Oeste cedeu ao fogo também. Os Romanos montaram outro acampamento fora da cerca. Fizeram uma pira gigantesca, onde prestavam uma última homenagem aos mortos e os encaminhavam para o Elizium deles. Pelo que percebemos, para os nossos companheiros perecidos abriram uma vala comum. Não nos conseguimos aproximar muito porque o esquema de sentinelas é muito cerrado. Há patrulhas por todo o lado, que se cobrem e desmultiplicam em círculos. Os Romanos são ainda muitos. Observamos algumas dezenas de cativos. Os desgraçados não tiveram êxito na fuga.
Para tentar recolher mais factos, arriscamos e fomos a Sekia. A civitas está praticamente sob estado marcial. Muitos dos mercadores fugiram e a presença militar romana é muito sentida. Mas, continua de acesso franco.
Pelas ruas e nas tabernas onde paramos para beber andamos sempre de ouvidos bem abertos. Por fim, alcançamos aquilo a que íamos: um centurião romano confidenciou com alguns dos seus legionários que, quando chegasse a legião oriunda de Ardósia, Marcus Minucius Rufus pretendia iniciar uma expedição punitiva contra os Celtas, sobretudo os da orla meridional ocidental, os mesmos que haviam provocado aquele incidente. Iria em perseguição dos fugitivos e arrasaria todos os locais que os ajudassem. O Cônsul está furioso e ficou sobretudo possesso quando, a partir das revelações de prisioneiros e de um tal Maxílio, conseguiu juntar as peças e percebeu a trama urdida pelos Celtas. Mandou executar Maxílio.
Ao que parece, morreram muitos romanos e púnicos na revolta. Porém, a maioria dos prisioneiros escapou e dirigiu-se para Sul, no encalço de Nova Cartago.
Aguardam a Legião de reforço no dia de amanhã…”
-“Não temos tempo a perder. Atraímos a atenção da fera e agora só nos resta matá-la ou morrer. Partimos amanhã para o interior das montanhas. Vamos desgastar as tropas de Marcus antes de lhes montarmos uma armadilha de que não se esquecerão. Terá de ser algo retumbante, que assuste os romanos e os obrigue a retirar. Não vejo outra maneira. Em campo aberto jamais os venceremos, mesmo que as nossas tribos se aliem e corram em nosso auxílio”, proferiu Alépio com um brilho muito especial nos olhos de guerreiro, desejando novas e mais grandiosas façanhas.
Tongídio adiantou-se e completou o companheiro: - ” É importante enviar mensageiros pela Ibéria e pedir apoio. Um par dirigido a Aníbal e daí correr o Sul até aos Cónios, outro par enviado aos povos da meseta e tentar parlamentar com os Celtiberos e Turdetanos e, finalmente, um grupo de vanguarda que vá a todos os nosso povoados a Ocidente anunciar a nossa chegada e incite todas as forças para combate ao opressor!”
- “Não te esqueças dos Vacceus. Tratarei eu de comunicar com o meu povo.”
(continua…)

Andarilhus
XIII : VIII : MMX

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sexta-feira, agosto 13, 2010 - 11:52

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