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Por Ti Seguirei... (19º episódio)
(continuação de http://galgacourelas.blogs.sapo.pt/49191.html)
…
Uma longa mancha avermelhada movia-se em ordem e naquilo que parecia ser um passo único e simultâneo. Eram precedidos por fileiras de cavalaria, que formavam a vanguarda da legião e forçavam o passo. Estavam quase no local onde os Celtas tinham conversado com o pastor. A encosta dura que os apartava em distância e altura iria atrasar um pouco os legionários peões, mas a cavalaria seria lesta a galgar o obstáculo. O grupo cansado dos Celtas não poderia esquivar-se por muito mais tempo. Sentiam-se abandonados pelos deuses e carentes da sua bênção. A sorte não lhes sorria. Tinham talvez meio dia - ou mesmo menos - até que se vissem confrontados com os primeiros inimigos.
Alépio chegou-se ao centro do grupo, olhou para alguns dos ilustres dos diferentes clãs e também para Rubínia, procurando perceber os seus pensamentos e avaliando a reacção que se seguiria ao que iria propor. Respirou fundo e proferiu, em jeito de profecia: -“Tem sido um prazer e uma dádiva combater a vosso lado e partilhar a fortuna que nos é comum. Assim foi e assim vai continuar a ser. Morrer a vosso lado será mais um momento de grande júbilo. Estes Romanos não nos apanharão com vida. Vamos lutar até que os deuses nos levem para os seus domínios!”
O grito de aprovação foi medonho. Os guerreiros estavam plenamente vinculados àquela espécie de irmandade e mais entendiam que uma morte digna era superior a uma vida infame de prisioneiro. Mesmo os que não dispunham de armas estavam dispostos a lutar, quer fosse apenas com os punhos, quer fosse com pedras ou estadulhos.
Rubínia, no íntimo, ainda deixou emergir a tristeza e a decepção. Tinha levado a cabo tamanho projecto para encontrar e salvar o seu amado Tongídio, e tudo se perderia num ápice. Não conseguiria levá-lo de regresso a casa. Contudo o seu ânimo elevado tratou de sarar as fragilidades e aceitar que, pelo menos, morreria ao lado dele. Estariam para sempre juntos.
-“Assim seja”, continuou Alépio. “Vamos entrincheirar-nos no outeiro ao fundo do planalto e preparar as defesas”.
Tongídio com Rubínia e alguns homens ficaram junto ao extremo da encosta por onde surgiria o inimigo, controlando a sua evolução de andamento. Os cavalos também estavam por ali, uma vez que já não seriam necessários. Apenas um foi levado para o sítio da última resistência. Teria um destino sagrado.
No outeiro, aproveitaram os afloramentos graníticos, complementando-os com pedras, troncos e ramos, nos espaços abertos. Fizeram assim, apressadamente, uma pequena cerca, que confinava a Oeste com o Ebro. No interior, acumularam rebos em quantidade, para as fundas e para projecção manual. Recolheram igualmente varas fortes, as quais afiaram e endureceram nas extremidades, aparando-as e queimando-as ligeiramente. Num espaço mais amplo, amontoaram algumas pedras mais afeiçoadas, que serviriam de ara sacra, onde ofereceram cerimonialmente o cavalo, aos deuses da guerra e da concórdia. Cumpriram os diferentes ritos, segundo cada povo ali representado, pedindo força, coragem e discernimento para a peleja que chegaria em breve.
Na retaguarda, para além do rio, prolongava-se o outeiro, e com ele, a fuga desejada mas impossível. O vão entre margens não era grande – cerca de 6 braçadas – mas a altura e inclinação do troço, quase em cascata, a força da corrente e o leito de rocha nua eram razão de morte certa a quem caísse na armadilha. Se pelo menos tivessem mais um dia de vantagem sobre os Romanos, poderiam tentar construir uma travessia. O corte das árvores necessárias sem as ferramentas adequadas era muito moroso.
Assim que Tongídio se apercebeu que a cavalaria inimiga se adiantava e iniciava a subida da encosta, reuniu os cavalos e atiçou-os bruscamente e em debandada pelo caminho abaixo e ao encontro dos que subiam. A confusão iria atrasá-los um pouco mais. Depois recuou com os demais para a improvisada fortaleza. Rubínia fez igualmente os votos à sua venerada Trebaruna, apertando firmemente o amuleto da divindade contra o peito.
Restava-lhes aguardar.
X : IX : MMX
Andarilhus
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