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SEGREDO - 2
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O enredo de carícias que sub-reptício e muito sonso se instalou na nossa manhã de praia sabia bem, muito bem mesmo, mas estava rapidamente a aferventar-me o cérebro, onde tudo acontece, e como era inevitável a minha líbido manifestou-se desassossegadamente nos meus calções de banho.
Diria que a Patrícia não terá observado a minha audaciosa reacção física, mas o seu sexto sentido deverá tê-la alertado, de modo que surpreendeu-me com um inesperado pulito para a areia e atirando-me, sem me fitar, enquanto pegava numa ponta da toalha e a levava de rastos:
– Vou deitar-me à borda da água. A maré está a vazar. Vens?
– Boa ideia. Aqui, o cascalho está a ficar muito quente. – ripostei, sem segundo sentido, mais para ganhar tempo a recompor-me da minha imponderável excitação.
Despendi mais uns segundos, tentando aperceber-me se da Esplanada alguém nos estaria a observar, e fui atrás dela. Pela primeira vez tive consciência de que a antiga e tenteada escassa proximidade entre mim e a Patrícia não passava de uma frágil defesa psicológica a que eu recorria ante o seu encanto natural e a minha incerteza quanto à capacidade de resistir-lhe. Ali estava eu com um complicado problema para resolver: Patrícia era bastante bonita e desejável, e sedutora, como agora acabava de constatar, e eu contentar-me-ia com um flirt inconsequente?
Mas quando comecei a estender a minha toalha ao lado dela, que já se deitara ao Sol, de barriga para baixo, na areia húmida a pouca distância do marulhar miudinho da rebentação, já eu tinha decidido a favor da minha refeita timidez: Patrícia, limitava-se a saborear a manhã; eu é que estava a imaginar coisas. Além de que, na minha posição de muito provável futuro Director-Adjunto pedia-se-me discernimento para não cair em tentações desaconselhadas, impróprias e mesmo ilusórias, pois que aquela loira se nunca antes tivera para comigo um só olhar ternurento, ou sequer de possível cumplicidade sentimental, era porque na verdade eu não tinha qualquer atractivo relevável, afora a minha competência profissional.
Ou seja, se porventura ela persistisse claramente na sua provocação feminina – o que me parecia remotamente verosímil – eu teria, por obrigação para com ela e responsabilidade para comigo, de aguentar o desafio, ou... sei lá... Por que haveria de me ralar antecipadamente com coisas improváveis?
Reparei que lá ao longe o barquito desaparecera de vista. Quanto à Patrícia, desenlaçara nas costas o cordão da parte de cima do biquíni e jazia esplendorosamente a meu lado. Eu, de barriga para o ar, ligeiramente soerguido sobre os cotovelos, parecia-me incrível ter perdido o gesto dela a desfazer o laço mas agradecia-lhe mentalmente o seu à-vontade que me permitia deliciar-me a afagar-lhe com o olhar as suas formas perfeitas e tão sensuais, agora mais ainda com a visão da curva do seio a despontar-lhe sob o ângulo do braço em que repousava aquela grenha de cabelo doirados.
O meu enlevo – sim, também perceptível nos meus calções – durou um bom pedaço, enquanto ela aparentava ter adormecido. E se eu não estivesse tão atrapalhado comigo próprio ter-me-ia sido fácil descobrir a sua agitação, que por muito que ela dissimulasse estava à vista na respiração profunda e irregularmente contida que a perpassava. Ela pouco mais se aguentou. Deu-lhe a curiosidade, talvez, ou receou que eu me autorizasse qualquer irresponsabilidade, ou, digo antes, seguramente ter-se-á condoído de mim. Ergueu o busto, ainda de costas mas sem cuidar de resguardar os seios, relanceou a lonjura e depois a Esplanada, de esguelha e incluindo-me também a mim e à minha masculinidade ousadamente em riste sob a mistura de quadrados azuis e castanhos do tecido dos calções, e num ápice levantou-se e desatou numa corrida azougada, mar adentro, rindo, espadanando a água e gritando-me: – Anda! Está óptima. Anda, vem!
Nesse instante pensei que se não me decidisse a ter mão nas minhas fantasias o mais certo seria vir a tornar-me inconveniente e proporcionar à Patrícia a futilidade de publicamente ter de me desculpar a minha figura de parvo atrevido. Sem dúvida que o comportamento dela nada tinha de anormal. Por mais de uma vez, até na piscina do nosso retiro, embora a alguma distância, marcada pela minha indiferença, a observara em top less; ela não estava agora, portanto, a exibir-se ostensivamente; e não deveria deixar de notar-lhe algum resquício de pudor, pois até ao momento conservara-se esquiva ao meu olhar: de costas ou de perfil. E as carícias dos nossos pés haveriam de ter sido mais imaginadas por mim do que toques de acriançada brincadeira por parte dela. Resolvi sossegar-me. Virei-me de bruços, aninhei a cabeça sobre os braços cruzados e fechei os olhos. Por um pouco ainda a ouvi trautear uma cantilena qualquer entrecortada pela rebentação de uma ou outra vaga mais forte, mas logo dormitei.
Uns dez minutos apenas foi quanto ela andou na água; despertei em sobressalto e, constrangido, imediatamente verifiquei a hora ante o alarde dos seus chamamentos quando resolveu tornar para ao pé de mim. Teve muito cuidado para não me respingar de água, enxugou ligeiramente o cabelo e deitou-se novamente ao meu lado. Continuava em top less e eu, desejando não parecer-lhe provinciano, voltei a pôr-me de papo para o ar; agora absolutamente aquietado, sem mostra de sexualidade inflamada; esforçadamente, claro, pois que toda ela era curvas e sensualidade espontânea a toldarem-me; quando é assim, olho para longe e penso em esquimós, em renas e nos gelos Polares, sinto frio e resulta sempre. Mas a Patrícia não tardou em virar-se ela de bruços, como eu estivera, poupando-me a tentação de mirar-lhe os seios, de mediano tamanho mas insuspeitadas grandes auréolas coroadas por arrepiados mamilos, clarinhos e pontudos. Mais um encanto a juntar aos seus muitos outros, que é melhor não descrever para que não me censurem o erotismo inerente. Isto de dizer que uma mulher é bastante bonita, com adjectivo vago porque a subjectividade da apreciação é sempre tão particular, é certo que só tem significado para mim, que conheço a Patrícia e o doirado dos seus cabelos; mas não sabe o leitor o que é a beleza? É evidente...
Espantosamente, para o meu coração, o barquito reapareceu no horizonte, fornecendo-me aceitável pormenor para desviar da Patrícia os meus olhos atribulados e famintos. E mais espantosamente soltou-se-me sem licença a provocação em tom divertido:
– Se tirasses também a parte de baixo, secavas mais depressa... – disse eu baixinho, de olhos semicerrados, mesmo assim a piscarem, flagelados pela luminosidade cada vez mais forte do mar. Não me respondeu. Mas eu não tive dúvidas que ela me tinha ouvido; primeiro notei-lhe um golpe na pretensa tranquilidade do seu arfar, que se repercutiu numa leve tremura nas costas como se eu lhe tivesse percorrido subtilmente a coluna com os nós dos meus dedos; depois ainda me apercebi que levantou a cabeça e me lançou um rápido olhar de soslaio a acompanhar um encolher de ombros de quem diz: “– Pois... Mais nada!”
Alguém na Esplanada deu um berro que eu não entendi mas a Patrícia, mesmo sem olhar, levantou um braço e fez um sinal de adeus. Vi as horas, agora com mais atenção, e constatei que era meio-dia. Talvez fosse boa altura para desandarmos, indo preparar-nos para o almoço. “Por mim não preciso de almoçar. Troco tudo por mais um pedaço aqui com ela...” – disse-me, com um sorriso tão íntimo que só um anjo distinguiria. A manhã estava magnífica, mas o que prenderia ali a Patrícia na companhia do patusco que eu era?
Qualquer coincidência entre a realidade
e os factos ou personagens deste obra é,
precisamente, coincidência. ficcional.
Escrito de acordo com a Antiga Ortografia.
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