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VINCENZO

A guerra construía o século imaculado. Havia fogo e fumaça, lâmina e pluma. Ao soldado da ordem menor que mais cabia senão a glória da boa morte? Os estrategistas em suas cúpulas e toda aquela gente com seus dizeres profundos, todos aqueles donos do mundo e seus bem-falantes... Distante dali uma extensão de terra qualquer onde ninguém havia pisado.

O homem sabe de tudo... Vincenzo confessou a si que não sabia. Então Recolheu-se no silencio da espera arrastada até o pôr-do-sol sonolento. A perna direita estava corroída de doença e os olhos nada enxergavam além de uma mancha negra dissolvente.

Como estaria o trigal, a mulher e o campo das uvas? Ainda que o esforço de recordar fosse grande tudo figurava obscuro, embora a presença da lembrança fosse um alento que jamais se instalaria nos portões do infernou que passou a habitar. Lâmina e pluma: Não concebia ser guerreiro e completo homem de Deus, mas se bastasse ser homem incoerente de boa alma tudo estaria bem. Ora, não se pode ser carente e soberbo como não se pode ser esposado e luxurioso assim como não se pode ser justo e jogador. Não se pode compensar soberba triste e lamentada, como não compensava a luxúria apagada e o jogador caridoso. Diante da própria severidade, Vincenzo pensou que sua cabeça estaria voltando a trabalhar bem. Porém a figura das uvas e do trigo ainda surgia dissipada no infinito negro. E além da atmosfera serena e passiva da terra e das fogueiras, naquele leito de pedra todo o resto morria incompleto e frio.

Bastaria cumprimentar a derrota para ser o último dos homens, ou o recuo pensado para ser desgraça eterna. Para ele era muito simples a forma como viviam os monges das comunidades do campo ou os parentes abrigados da guerra. O sangue era tesouro e o tanto quanto fosse o um capaz de fazer e dispor das veias para construir o caminho. E a cada jorrada de suor e a cada marca na carne era erguido o verdadeiro templo do espírito.

A amputação era irremediável, mas o espírito não desfalece junto a luz da aurora amaldiçoada, sabia ele.

Era momento para pensar na vida, embora fosse o passado a figurar nutrido. Ocorre que o caminho ganhou bifurcação, e à marchas apressadas e compenetrado no feito, o primeiro rumo se perdeu. E então ele julgou mal sua indisposição ao conhecimento. E percebeu que um guerreiro poderia precisar de cultura, e supôs que aquela noite de lamparina seca seria de todas a mais penosa. Lembrou que a fonte nova dava água fresca e reforçou para si que os estrangeiros eram odiosos.

A cabeça estava afundada feito dedo em terra de saúde, repousando pesado no molde de pedra em curva. E a lâmina trazia gordura e mancha e seus tecido estavam gastos e mal-cheirosos. Mas além de todo o desconforto que podia mensurar e todos aqueles tempos que lhe cortejavam em memória nebulosa, a fome havia silenciado. E quando deu-se conta já havia se conformado com tudo. E pensou que a fome poderia não ter faltado. Como coisa que desperta o espírito e mantém o reluzir da alma ou algo do tipo, como proferido pelo gigante Leone.

A sorte devia ser o tesouro dos pequenos, ele só desejava a tarefa cumprida. E quando se morre por dentro tudo está perdido, pensou... E será que me basta morrer com o corpo falido? O resto é mudo para o mundo...

Era o tempo de frutos maduros e trombetas gloriosas. De trabalho e suor, como seria o único tempo do fim para os vivos. Vincenzo estava atento à iminência do pôr-do-sol, então sua cabeça pendeu para o lado.

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domingo, novembro 22, 2009 - 20:32

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COBBETT

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Re: VINCENZO

Parabéns pelo belo texto.

Gostei.

Um abraço,
REF

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