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A Morte espera...

I

Dizem que a morte não espera,
Mas quando o seu nome está na lista,
Ela espera sim:

O caos da cidade grande
Pessoas com olhares mortos
Escravos de um mumismático ser chamado tempo.
O dia sem saber que é dia,
À noite não dormida pela falta de percepção.
A oração mecânica,
A crença por insistência pregada pelo passado.
O eterno atraso,
A diminuição do tempo ocasionada pela velhice.
Um homem no meio da multidão
A pressa que não deixa pensar
O desespero
Um táxi:
_ Por favor, rápido para o aeroporto!
Estou atrasado para o vôo da morte.
Vou perder o vôo!
Vou perder o vôo!

O comandante da nave da morte faz a chamada...
Falta um nome.
_ Se não fosse o vôo da morte eu não o esperaria,
Mas agora eu o espero com gentileza.
_ Rápido senhor, você está atrasado para o vôo!
_ Por Deus! O comandante me esperou!

Procedimento de decolagem
Cintos apertados
Check motor
_ Apertem os cintos, desliguem seus celulares e tenham um bom vôo.

Som de turbinas
Milagre tecnológico
Faces nas nuvens
Vozes das turbinas...
Morte, morte, morte...
Sensação estranha, porém imperceptível.
Uma chuva fina estendida como tapete na pista
Aterrissagem
Entrada triunfal pelo tapete vermelho de sangue.
Arremeter, arremeter, arremeter...
Um avião na contra mão,
Um clarão,
Deterioração.

II

Quero mostrar-lhes o dom de fazer chorar!

Naquele dia senti um efêmero acontecimento,
E mais do que nunca, me vi pequeno demais
Perante os mistérios que nos atordoam
Quando a anormalidade tira toda monotonia da normalidade.
Um país agora chora e olha para o espelho d’água
No meio da pista de decolagem
Para ver milhares de rostos distorcidos,
Preso do lado de baixo da água lacrimal.
Existem lamentações, mas é impossível ouvi-las,
Tudo passa num piscar de olhos:
A dor é um susto
O desconhecido é o luto...
Palavras de saudade.

Vidas não vividas que se vão,
Quando crianças deixam para trás suas curiosidades.

Quando viemos ao mundo, olhávamos para o “tudo”,
E o “tudo” era uma eterna novidade.
Se a morte leva quem pecou,
Para que levar os bebês?

Se existe amor, este amor é de uma mãe pelo seu filho:
O susto é cruel.
A mãe grita, grita!
E só pensa em abraçar a sua filha,
Um abraço tão forte
Que ela quase consegue teletransportá-la para um berço tranqüilo.
_ Por favor, meu Deus, leve-me, mas salve minha filhinha!

Acho que este Deus às vezes se cansa
E se esquece o quanto é importante e linda a vida de uma criança.
A coisa mais triste é um filho partir antes do pai:
O mesmo caminha para os dias que lhe restam
Sem se quer sentir vontade de viver
E vive uma vida morta.
Todas as coisas o fazem lembrar de seu filho.
A lembrança é linda, mas às vezes é o maior dos carrascos.

III

O ser gigante chamado Brasil agora chora...
Taciturno e cabisbaixo
A triste partida de vários filhos.
Abrindo uma ferida de fogo no seu coração rubi.
As pessoas rezam sem saber se isto acalma realmente a dor.

Lágrimas são lágrimas
E lágrimas são saudades,
De lembrar, lembrar e lembrar:
Dos filmes da memória, das suaves brincadeiras
Dos eternos sorrisos, dos aniversários
Do primeiro beijo
Da primeira palavra de amor, da primeira gravidez
Do primeiro choro de bebê, da palavra pai
Da palavra mãe, do abraço forte, da lágrima de alegria.

Das leves brigas, das fortes brigas
Das sôfregas separações
Do parque nos fins de semana
Das notas baixas, dos choros, do desespero
Das notas altas, do orgulho, da tranqüilidade
Da curiosidade, do aprendizado, da vitória...

Nada é por acaso
E tudo, é mais que um simples ocaso.
A vida vai e vem,
A vida vem e vai.
O tempo cicatriza, mas a cicatriz fica visível,
Para esta cicatriz não existe cirurgia plástica.
Às vezes gostaríamos que coisas tristes fossem apenas sonhos.
A saudade perpetua e fortalece ainda mais
Àqueles que se vão de forma inesperada.

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quarta-feira, dezembro 16, 2009 - 21:31

Ministério da Poesia :

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FranciscoEspurio

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