Dormir

O homem quando nasce, e à semelhança com qualquer outra máquina, transporta consigo um software muito bem programado, com determinados parametros imutáveis. Esses parametros dizem respeito a tudo quanto é quantificavel ao longo de uma vida. O mais importante de todos eles é o número de batimentos que o seu coração fará. Se não houver qualquer virus ou acidente que possa danificar o software, esse número não fugirá muito dos 3 biliões de batimentos. O coração tem um tempo de vida. E esse tempo poderá ser maior ou menor dependendo do desgaste que lhe damos.

Ao longo da vida há muitas condições que fazem o coração bater mais ou menos vezes. Temos o conhecimento suficiente para sabermos que o stress é o pior inimigo do coração e que tudo o que seja emoções muito fortes o poderá danificar. Desgasta-se.

Sabemos também que podemos fazer aumentar-lhe o tempo util de vida exercitando-o. Que ao exercitarmos estamos a fortalece-lo e a criar condições para que bata mais devagar. Poupa-se.

Durante o dia o coração bate com velocidades diferentes dependendo do estado de vigilia ou de sono do indivíduo. É à noite, durante sono que ele abranda e descansa. Dorme.
Há quem ache que dormir é uma perda de tempo. Que depois de se morrer haverá muito tempo para dormir. O sono eterno.

Não podia estar em maior desacordo com quem pensa desta forma. Para além do sono nos fazer poupar uns bons milhões de batimentos cardiacos, prolongado-nos a vida, eu vejo o acto de dormir como um prazer. Dá-me tanto prazer dormir como comer ou amar. E são prazeres que, infelizmente, tenho a certeza que vou deixar de ter assim que deixar de viver.

O acto de dormir descansa-nos o corpo e a mente. Para além do mais permite-nos algo que mais nenhuma outra actividade nos consegue proporcionar. O sonho. O sonho fantasioso e fantástico, no qual experimentamos sensações diferentes daquelas do mundo real. No sonho, somos completamente livres das leis da física, das limitações espacio-temporais e das limitações do próprio Ser. Só durante o sonho podemos brincar com as várias dimensões.

Eu adoro dormir e sempre que posso faço-o por muitas horas, ao longo da noite...e, às vezes, do dia.

Sonho e vivo...

Luís Alturas, 9 de Agosto de 2011