AO SILÊNCIO DE UM SIM A DOIS

Que o meu olhar seja
a bíblia do pecado autorizado pelo teu olhar.

Que os nossos olhos
se dissolvam na fervura do querer de ambos.

Que os meus beijos sejam sémen
para semear em ti as minhas labaredas.

Que em ti cresça o meu lume
como um cogumelo nuclear no horizonte.

Que as palavras sejam esmagadas
pelo coito das nossas línguas atordoadas por prazer.

Que o sabor das nossas salivas
nos molde a alma como dois cubos de ferro liquefeito
numa esfera de átomos enfurecidos a fabricar a vida.

Que os nossos corpos
sejam habitados pelo suor em lava dos nossos poros
como mil páginas escritas num segundo.

Um apertar que nos funde poesia ao silêncio de um sim a dois.

Um lado a lado estendido até ao infinito.

Que as minhas mãos sejam a roupa que te veste.
Que a nudez a dois seja nua.

Tão nua quão o fogo nos ossos do sol.
Tão nua como um rio que desce a montanha num a pique louco.

Que os meus gestos saibam de cor o vento
que varre os desertos à tua frente.

Que o “que” seja sempre um “que” de nós.

 

 

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Wednesday, February 8, 2012 - 22:32

Poesia :

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Henrique

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GIL60's picture

AO SILÊNCIO DE UM SIM A DOIS

Parabéns, caro Henrique, por este belíssimo momento de poesia!

ISABELLA - M - REGO's picture

NO SILÊNCIO DE UM SIM A DOIS

Belo poema.

Desnudado de preconceitos e tabus envergonhados.

Parabéns!

de amiga

Isabella

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