A UM MINUTO IMÓVEL DE NÓS …

O silêncio pronuncia palavras por dizer.

No pensamento sopram ventos cujas vozes
se desfragmentam insípidas no esquecimento.

Sonharmo-nos é uma estrada ininterrupta.
Um caminhar gasto inospitamente
pelos passos por dar rumo a nós.

Na morte dos nossos lábios,
os lábios do outro são ilusões contorcidas em sede.

Os sabores que das nossas línguas ficaram por libar
são vertigens desmesuradas.

A paixão entre nós foi uma maré-louca
que nos afogou insanos em noites por anoitecer.

O amor entre nós foi uma vida por nascer.
Um deleite de poetas num poema por acontecer.

Os olhares que trocamos,
remanescem como flores na alma,
rendem-se ao ego como chuva refrescante num oásis a dois.

Recordar o teu rosto é um Agosto quente
neste deserto de solidão e anseio
onde o teu beijo está ausente.

O que olho agora em nós são visões incompletas.
Quimeras como setas de um cupido
que nos acertou ao lado.

As minhas mãos vincam-se em desespero
à espera da pele de ti.

A inocência da minha voz incendeia-se em culpa
na tua voz.

Morreu-me o ser por entre a escuridão
de embustes que a distância entrelaçou em nós.

O desejo fechou-se em adeus.
A poesia entre nós desmoronou-se.
Os nossos corpos ardem mas o fogo apagou-se.

O tempo entupiu de nada os becos da esperança
que fez ponte entre nós.

Ter-te como nunca tive é uma cruz espessa de saudade.
Uma mentira feita de verdade.