O Homem da Marquise

Não deixa de causar certa estranheza o fato de haver tanta gordura em seu corpo, enquanto que os andrajos que veste e os  rotos sapatos que calça denunciam a indigência em que vive. Como ele consegue?

Obeso e mendigo. E, ainda, “proprietário” de um “endereço fixo” (sic).
Nunca nos falamos, mas há aproximadamente dois anos nos cumprimentamos quando eu sigo para a Biblioteca onde escrevo e passo em frente à marquise onde ele goza do sonho capitalista da “casa própria”.

Nunca me pediu nada e tampouco lhe ofereci. Acho que ambos tememos causar algum prejuízo às nossas dignidades se introduzirmos algo além de respeito em nossa relação de cavalheiros. Somos dois homens que se cruzam enquanto carregam as misérias individuais entre as tantas coletivas.

Já o vi sendo insultado por um bando de desocupados e medíocres funcionários de lojas ou de bancos, que zombavam de sua indigência, sem atentar para as próprias. Mas também já presenciei quando ele era acarinhado pela atenção de uma senhora, cujas boas intenções eu não sei se eram reais e sinceras, ou apenas o resultado de seu desejo de aliviar a consciência, ou de sua vontade de conquistar mais um “milagre” para a sua Igreja.

Pouco importa. O fato é que em ambas as situações, suas placidez não se alterou. Manteve o sorriso tímido nos lábios maltratados enquanto, talvez, esperasse que as duas provações seguissem por inércia a inutilidade de seus criadores.

Logo mais, após esse café ligeiro e terminar essa crônica, seguirei para o trabalho e, provavelmente, ao seu encontro. Espero rever-lhe e lhe desejar “bom dia”. Nada mais seria necessário.

Por Tais (Taisinha)

Submited by

Thursday, August 2, 2012 - 14:06

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 8 years 25 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Sadness A Canção de Alepo 0 7.867 10/01/2016 - 21:17 Portuguese
Poesia/Meditation Nada 0 6.570 07/07/2016 - 15:34 Portuguese
Poesia/Love As Manhãs 0 6.624 07/02/2016 - 13:49 Portuguese
Poesia/General A Ave de Arribação 0 6.583 06/20/2016 - 17:10 Portuguese
Poesia/Love BETH e a REVOLUÇÃO DE VERDADE 0 8.371 06/06/2016 - 18:30 Portuguese
Prosas/Others A Dialética 0 12.312 04/19/2016 - 20:44 Portuguese
Poesia/Disillusion OS FINS 0 7.190 04/17/2016 - 11:28 Portuguese
Poesia/Dedicated O Camareiro 0 9.244 03/16/2016 - 21:28 Portuguese
Poesia/Love O Fim 1 6.775 03/04/2016 - 21:54 Portuguese
Poesia/Love Rio, de 451 Janeiros 1 11.566 03/04/2016 - 21:19 Portuguese
Prosas/Others Rostos e Livros 0 10.206 02/18/2016 - 19:14 Portuguese
Poesia/Love A Nova Enseada 0 6.805 02/17/2016 - 14:52 Portuguese
Poesia/Love O Voo de Papillon 0 6.146 02/02/2016 - 17:43 Portuguese
Poesia/Meditation O Avião 0 6.977 01/24/2016 - 15:25 Portuguese
Poesia/Love Amores e Realejos 0 8.478 01/23/2016 - 15:38 Portuguese
Poesia/Dedicated Os Lusos Poetas 0 6.857 01/17/2016 - 20:16 Portuguese
Poesia/Love O Voo 0 6.532 01/08/2016 - 17:53 Portuguese
Prosas/Others Schopenhauer e o Pessimismo Filosófico 0 10.497 01/07/2016 - 19:31 Portuguese
Poesia/Love Revellion em Copacabana 0 6.209 12/31/2015 - 14:19 Portuguese
Poesia/General Porque é Natal, sejamos Quixotes 0 7.991 12/23/2015 - 17:07 Portuguese
Poesia/General A Cena 0 7.521 12/21/2015 - 12:55 Portuguese
Prosas/Others Jihadismo: contra os Muçulmanos e contra o Ocidente. 0 11.144 12/20/2015 - 18:17 Portuguese
Poesia/Love Os Vazios 0 10.169 12/18/2015 - 19:59 Portuguese
Prosas/Others O impeachment e a Impopularidade Carta aberta ao Senhor Deputado Ivan Valente – Psol. 0 9.278 12/15/2015 - 13:59 Portuguese
Poesia/Love A Hora 0 9.979 12/12/2015 - 15:54 Portuguese