Quem chora por Teus filhos?
Eu, que nunca estava,
presente na hora escrava,
ausente na hora exata,
Eu, que nunca gritava,
silente na hora cravada,
ausente na hora da bravata,
Eu, que nunca ameaçava,
pedinte na hora mendigada,
ouvinte na hora madrasta,
Eu? Mas quem sou eu que agora brada?
Quem sou eu que nada mais importa?
Que ninguém vem me abrir a porta?
Eu? Mas quem sou eu perdido na esquina?
Quem sou eu que caminha na rua deserta?
Que ninguém vem me oferecer uma jaqueta?
Eu? Mas quem sou eu evitando a esquina?
Quem sou eu que trafega na noite soturna?
Que alguém vem me oferecer no posto uma vodka?
Afinal, são tantos os "eus",
alguns feito Prometeus,
na miséria acorrentados
Outros idolatram a Baco, os excessos
na luxúria rodam embriagados
E todos, filhos do mesmo Deus
Quem chora por Teus filhos?
Estendidos nos papelões na marquise do banco
Estendidos nas macas, em coma no asfalto
AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 22-Set-12.
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