Pause para contemplar o monitor
Pause para contemplar o monitor
Saiba começar uma história com uma advertência. Depois ligue o aquecedor a gás, enxugue as roupas junto ao aquecedor a gás. Molhou-se na rua. É a sua única
verdade momentânea. O momento, ele mesmo, será único? Se conseguir verificar todas as coisas que estão dentro de casa, constatará que apenas fez três
movimentos: começou a escrever o texto, acendeu o aquecedor a gás, começou a secar as roupas. Saiba, no entanto, despir-se de preconceitos de autor pois as
aparências iludem: choveu sobre o seu texto, pingou-o aqui e ali e as primeiras palavras borrataram; o aquecedor a gás deslocou-se ligeiramente para si quando
explodia e implodia num ápice a baforada de gás libertada; as roupas fumegaram vapores de água enquanto girava sobre si mesmo para apanhar o ar quente numa
espiral ascensional. Repare que lendo o que escreveu, o que supunha ser uma advertência não é mais que meter a chave na fechadura da porta. Constata que soube começar o texto e nada mais, pois em tudo o que lhe aconteceu a seguir desde que abriu a porta e entrou em casa, não houve um momento único ou, aliás, um único momento em que articulasse com precisão os movimentos desencadeados no universo que o rodeia. Isto é para si uma advertência e uma ilusão do autor que também
não consegue articular devidamente as marionetas do universo e ufano se vislumbra como um deus ex-machina que já tem a história toda escrita, uma cosmometria
perfeita com uma geometria interior de bradar aos céus, uma dinâmica de interações físicas e mentais também interior e que não tem princípio nem fim. Por fim,
apenas isto, saiba antes de mais, começar uma história, deixe para o mundo as advertências e os avisos à navegação que é nisso que ignoramos todos a sapiência
dos momentos vivos.
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