"SUBLIME PROFANAÇÃO "

 
No deserto árido de branca areia e preversas intenções desci até a ti ,numa ténue luz de luar tórrido e voraz, onde o meu corpo desnudo , quente e fogaz atiçava ,o horizonte que te atraía insanamente até mim.

Os meus pés revolviam com mestria o lugar onde nos amaríamos loucamente ...

A força emana de mim, em nós desvairada .
Era e sou a mais brilhante lua de todas as monções .
Olho-te , sinto-te onde a enseada espreita a súbita vibração , onde o vidro ecoa e o peito arrepiado se ergue em volúptia .
Não destingo a carne quente da areia virginal e fresca , tão nossa , sem mossa perdida nas linhas ilimitadas do prazer ...
O deserto amarelado de outrem sem marco , recebe-nos sem alardo , para de pé ou deitada o fecundarmos numa intensidade transcendente à humanamente real .

Sou o novo acordar ,
Sou a nova verdade,

Sou a que te emana dos poros e te entranha na pele ,apenas e somente a tua sublime profanação .

Do mesmo insano movimento em que te aceito e rejeito , em horas a fio , passando recto a fuso-lento ,cravando minhas garras em flores molhadas , que te refreiam o mastro e refrescam , o calor em mesa posta e entreposta , livre e sem luz .
Em ti me entrego , querendo tudo de mim , quem não quer ?!!
Um nada querer é simplesmente não amar em fogo , um nada querer é viver no gelo morrendo queimando !!!
Esta noite prisioneira no arbusto erecto pendurado num licor doce , entrego-me em selvagens penetrações , sou a musa que te remexe em ácido as profundas entranhas fantasiadas , que te abala em cego queimar de aromas sobre incenso agreste .
Com a maior sede , navegas em mim , com o teu olhar cravado no meu e o suor escorrido nas bocas que não fechamos e jamais negamos em promessa alguma .

Puxas e repuxas meu farto peito em êxtase sublime , como ondas de caules maduros , em tempos recordados , ...
Sugas os bicos rosados e montanhosos como frescos sinos de amoras de almeirim ... em repleto fernesim .
Como resposta as araras gritam e eu gemo em delírio,
Eu te chamo , como fogo queima a lenha e esse teu corpo se transforma em brasa .
Devoro - te , dedilho - te palmo a palmo , se de lento se fogaz campo em que assolo as minhas sábias raízes ,
Te amordaço num suco perdido e cego de um entre-pernas entesuado e somente teu .

Viro - te numa dança do querer - te ainda querendo mais ,
Não sei o pedaço onde saibamos de onde sais e entras em mim em lume e sal ventoso , sem chegar ao fim .
Amo - te sem palavras , canto - te em doces suspiros e sonantes gemidos de prazer despertos , dispersos e enxutos como só eu , o teu vinho agreste que te mata a sede do teu fogo deserto .
Caída sobre o chão , deito - me em tua boca num elixir secreto , guardado de mil gritos , ... chão que cedeu como porta entre - aberta , em grito sonante de alerta .

Agito o meu corpo dourado e suado , enquanto as tuas mãos fortes refreiam a dança ...
E tal qual verga de redoma me levas para o teu forte peito e suavemente me beijas , gostando - me , saboreando -me , sabes apenas que abraças o fogo , e o barco apartou no rio que nos lustra a pele aveludada .
Sem medo olhamos a noite ,
Esta ilumina - nos e sorri ...
Um sorriso que nos acalenta a solidão outrora sentida ,
Mas que na nossa sublime profanação foi para sempre perdida ...

© Silvie Wacknbath

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Friday, January 25, 2013 - 03:56

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