ESTA TERRA
Esta terra
Esta terra que todos os dias eu piso,
É dela que todos os dias eu preciso,
Para viver o tempo que ela me der,
Pela minha vã esperança alimentado,
Que posso ser ou não eternizado,
Pisando o chão que ela quiser.
Esta terra que do nada me fez nascer,
E com ela eu me vou fazendo crescer,
À custa da minha própria ambição,
Que é emanada da minha mente,
Em que tudo o que eu fizer ela sente,
E eu às vezes não lhe sei dar razão.
Esta terra que um dia me há – de comer,
Já eu comi dela o meu viver,
Sonhando às vezes com o impossível,
Esquecendo o nada de que fui feito,
Em que nada do que fizer eu serei perfeito,
E que me pode parecer às vezes concebível.
Esta terra mãe que eu não sei como surgiu,
Onde eu existo e ainda não me viu,
Sou apenas uma peça das muitas que ela tem,
Que vivo, vivendo sempre iludido,
Que sabendo onde estou me sinto perdido,
Desde que saí do ventre da minha mãe.
Esta terra que é terra que me faz criar,
Fazendo com que eu possa sonhar,
Me vai dando as forças que eu não tenho,
Parecendo que sou eu e não sou,
Que me aponta os caminhos para onde vou,
Dando – me inteligência, arte e engenho.
Esta terra que me segura e também me faz cair,
E me dá forças para outra vez emergir,
Com tanta coragem e rasgos de medo,
Que me faz sentir que estou vivo,
Dando – me as forças que eu sempre preciso
Para caminhar, sentindo - me triste e ledo.
Esta terra onde todos os dias sou consumidor,
Que sabe ganhar e também sou um perdedor,
Me faz andar, rasgando as fronteiras do tempo,
Que me leva para onde eu não quero ir,
Regressando ao nada para ela me consumir,
Beneficiando da bonança e enfrentando o vento.
Esta terra para onde me leva eu não sei,
Não sei quem sou, para mim ainda não voltei,
Sei que estou aqui, que piso e sou pisado,
Grito sozinho para uma multidão sem ouvidos,
Por mais altos que sejam os meus bramidos,
E apenas a uns quantos me sinto ligado.
Esta terra cheia de flores carregadas de espinhos,
Onde todos os dias parecem tantos adivinhos,
Prevendo a forte ignorância do seu saber,
Prometem tudo no meio de tantos impropérios,
Ganhando a vida com os seus próprios mistérios,
E na hora certa acabam sempre por se abster.
Esta terra tão linda que não é só minha
E o seu futuro ninguém adivinha,
Temos de ter sempre muita cautela
Tratá – la tão bem como uma criança,
Com toda a nossa fé e perseverança,
Porque é nossa a terra mãe e a mais bela.
A esta terra eu dedico este simples poema,
E a quem inventou este complicado sistema,
Para viver é preciso ser comprador e vendido,
Por simples papeis onde se indicam os valores,
Por eles se faz o bem e se cometem horrores,
Fico na dúvida se me arrependo de ter nascido.
Tavira, 28 de Dezembro de 2009 – Estêvão
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