A MORTE VIVE EM MIM …

A morte está aqui,

no vinho e bingo do meu pensar.

Silenciosa sombra de olhos arregalados,

olhos que me olham em pálido tombo
e o olhar me esfriam.

Escravos sopros,

que me sopram sobre a pele
as profundezas sem fundo do inferno,

sopros de um rude inverno que me arrepiam.

É esta morte de não viver,

a mais morta das mortes
do meu acontecer em branco.

Esta morte de alma em dor,

vestida de coagulações de amor,
calçada de emoções em pranto e desnorte.

A morte está aqui no vazio do meu lugar,

como uma voz em cinza pelo ar
que o vento gosma sobre a minha cara.

Esta morte que em mim chora

como uma lágrima pelos ângulos da noite
onde o amanhecer se esconde na insónia da saudade.

Esta morte que em mim vive,

como uma frágil fraga,
caída onde o nada mais sobra me engasga
emoldado em palavras mudas no fôlego das visões,

que me traça em pó as sinas das ilusões,
que me desmonta o verbo ser de todas as luzes,

que me desacredita de todos os acreditares,
que me crucifica a todas as cruzes do passado.

E esta morte aqui em mim,

como uma adaga que atalha o sentir,
uma mortalha que me amortalha em desencontro,

que me espelha invisível,

que me espalha na boca de uma multidão indizível.
.
.
.
.

Submited by

Wednesday, March 27, 2013 - 00:45

Poesia :

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Henrique

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vida versus morte

a morte com seus nós
habita em todos nós:
Por vezes sentimos-lhe a voz!
Felizmente
também a vida
nos convida
e diz: Presente!

Belo trabalho!

1 abraç0o!

Abilio

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