MEDITAÇÃO
Meditação
Os meus lábios não se mexem, não querem balbuciar,
A minha vontade não se abre, ela não quer colaborar,
Tem as palavras presas na cadeia do meu pensamento,
A consciência não as deixa sair para serem levadas pelo vento,
E assim, pareço mudo mas falo com o meu sossego,
Ninguém ouve o meu silêncio mas sabem que não sou cego.
Falo com os meus olhos e ninguém sabe o que eu digo,
Mas reprovo ou aprovo o que ouço no meu sentido,
Julgo e não julgo, com o silêncio das minhas palavras,
Que no silêncio da minha mente são elas fabricadas,
E eu dentro da minha mudez não deixarei de pensar,
Pois penso, logo existo, não é preciso falar.
Quando as minhas palavras saem, já não as posso apreender,
São como as pedras que jogo e já não as posso deter,
E no silêncio dos meus actos, antes eu medito,
Ao jogar as palavras ou as pedras atirar, não me precipito,
Depois de elas saírem podem ferir alguém inocente,
Por isso no meu silêncio às vezes fico latente.
No tempo do meu sossego que preciso para mim,
Apenas penso e não falo, parece que nem estou aqui,
Analiso os meus defeitos e as atitudes de alguém,
Extraio o que não presta e aproveito o que está bem,
Depois, depois, acaba a minha meditação,
E assim fico mais calmo ouvindo o meu coração.
De vez em quando eu preciso deste meu retiro,
Que não é para rezar, mas eu sei ao que me refiro,
Penso no passado, no presente e no porvir,
Faz-me falta este silêncio para poder conseguir,
Dar balanço à minha vida do que já fiz e hei-de fazer,
Para ir vivendo bem o meu tempo até que ele quiser.
Como é bom meditar de vez em quando, lá isso é,
Normalmente faço-o deitado ou sentado e não de pé,
Com o meu corpo estendido eu sempre penso melhor,
Penso em muita coisa e não esqueço do amor,
Que faz falta à minha vida para dar e receber,
Para não perder muito tempo, no tempo do meu viver.
Tavira, 5 de Janeiro de 2011 - Estêvão
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